Pedro do Coutto
Com a decisão unânime do Supremo Tribunal Federal de marcar para
agosto o início do processo de julgamento dos réus do mensalão,
escândalo ocorrido em 2005, tornou-se impossível adiar o desfecho do
caso para 2013, quando já estarão compulsoriamente aposentados os
ministros Ayres Brito, atual presidente da Corte, e Cezar Peluso.
Completam 70 anos no final de 2012. O fato tornou-se manchete principal
das edições de quinta-feira 7 de O Globo, Folha de São Paulo, O Estado
de São Paulo, os três maiores e mais importantes jornais do país.
A repercussão assim foi enorme, é lógico, e a repercussão,
politicamente, é tudo. No Globo a reportagem foi de Carolina Brígido e
André de Souza. Na Folha, de Felipe Seligman. No Estado, de Mariângela
Galucci.
A proposta de marcar o julgamento de maneira definitiva partiu do
ministro Celso Melo. A aprovação unânime, exceção de Ricardo
Lewandowski, ausente da sessão de quarta-feira. Mas ele, como revisor do
relatório Joaquim Barbosa, assegurou que concluirá seu trabalho em
junho. Julho é o mês de recesso. A largada final acontece no início de
agosto.
Agora inadiável. Ayres Brito estabeleceu até o cronograma das
sessões, o tempo para o Procurador Geral, Roberto Gurgel, ocupar a
tribuna para acusação. O tempo para os advogados de defesa dos 38 réus.
Ficou em aberto o tempo para formulação de voto por parte dos onze
ministros. Não é obstáculo.
O ministro Joaquim Barbosa, por exemplo, já anuncia que lerá apenas
três laudas pausadamente, 15 minutos. Não deverá surgir qualquer
problema de relógio. O encontro entre o ex-presidente Lula e Gilmar
Mendes precipitou a sequência final de um dos maiores, mais impactantes e
importantes processos da República.
As manchetes do Globo, FSP, O Estado de São Paulo tornaram o
julgamento irreversível. Luiz Inácio da Silva e Gilmar Mendes também.
Todos, na vida, precisam de testemunhas. As páginas impressas são as
maiores. Pois é exatamente nesse espaço que a opinião pública assiste e
participa do que ocorre no país e no mundo. São a sua lente, a sua
ótica, instrumentos para sua tradução e percepção. Não há mais volta
para o mensalão no tempo e no espaço.
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DEMÉTRIO, O GLADIADOR DA VERDADE
Brilhante, culto e afirmativo como sempre, o professor Demétrio
Magnoli publicou artigo quinta-feira no Globo e no Estado de São Paulo
reduzindo a importância política da Comissão da Verdade instituída por
lei da presidente Dilma Rousseff.
Demétrio tece comparações com a Comissão da Verdade instituída na
África do Sul, final do trágico apartheid, com a eleição democrática de
Nelson Mandela, que se revelou um santo. Acentua que, enquanto a de lá
investia-se de poderes judiciais, a de cá, ao contrário, busca apenas
iluminar fatos passados.
Ele tem razão. Porém, a meu ver, este contraste não retira a
importância política da iniciativa. Demétrio Magnoli examina e analisa o
contexto à luz da moral e do Direito. Coerente, sem dúvida, sua
contribuição intelectual ao jornalismo tem sido notável. Apenas na
questão da verdade, ele manifesta o impulso de querer ir além dela.
Impossível na prática.
Existe a Lei de Anistia sancionada pelo presidente João Figueiredo em
79. Revogar tal lei é algo válido somente na teoria. Mas ela se refere –
o gladiador esquece isso – aos que praticaram crimes. Inclui, claro, os
torturadores. Mas eles não reconhecem terem praticado crime algum,
estão excluídos moralmente do esquecimento. Vão enfrentar acusadores
eternos: suas próprias consciências.
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