terça-feira, 26 de março de 2013

Estados que sustentam o Brasil. Pasmem!

Tínhamos esse sentimento. Entretanto não sabíamos da veracidade desses números, cujas diferenças são astronômicas . Dá para fazer uma boa reflexão acerca da situação econômica e social das regiões, bem como o uso pelo poder político da situação.E ainda querem criar mais estados no Brasil.

Na federação norte-americana, a regra básica foi que para entrar na União, o Estado produzisse riquezas e fosse auto-suficiente... E aqui, existe regra?

Veja abaixo quanto cada Estado recebe e repassa ao Governo Federal (via arrecadação de Impostos ). Depois faça as contas e veja quem sustenta quem? É assustador...

O Brasil que trabalha...
Estado
Quanto paga ao governo federal
Quanto recebe do governo federal
Em vermelho ficou devendo e Verde Fica sobrando
Maranhão
1.886.861.994,84
9.831.790.540,24
-7.944.928.545,40
Bahia
9.830.083.697,06
17.275.802.516,78
-7.445.718.819,72
Pará
2.544.116.965,09
9.101.282.246,80
-6.557.165.281,71
Ceará
4.845.815.126,84
10.819.258.581,80
-5.973.443.454,96
Paraíba
1.353.784.216,43
5.993.161.190,25
-4.639.376.973,82
Piauí
843.698.017,31
5.346.494.154,99
-4.502.796.137,68
Alagoas
937.683.021,32
5.034.000.986,56
-4.096.317.965,24
Pernambuco
7.228.568.170,86
11.035.453.757,64
-3.806.885.586,78
Rio Grande do Norte
1.423.354.052,68
5.094.159.612,85
-3.670.805.560,17
Tocantins
482.297.969,89
3.687.285.166,85
-3.204.987.196,96
Sergipe
1.025.382.562,89
3.884.995.979,60
-2.859.613.416,71
Acre
244.750.128,94
2.656.845.240,92
-2.412.095.111,98
Amapá
225.847.873,82
2.061.977.040,18
-1.836.129.166,36
Rondônia
686.396.463,36
2.488.438.619,93
-1.802.042.156,57
Mato Grosso
2.080.530.300,55
3.864.040.162,26
-1.783.509.861,71
Roraima
200.919.261,72
1.822.752.349,69
-1.621.833.087,97
Mato Grosso do Sul
1.540.859.248,86
2.804.306.811,00
-1.263.447.562,14
Goiás
5.397.629.534,72
5.574.250.551,47
-176.621.016,75
Amazonas
6.283.046.181,11
3.918.321.477,20
2.364.724.703,91
Espírito Santo
8.054.204.123,90
3.639.995.935,80
4.414.208.188,10
Santa Catarina
13.479.633.690,29
5.239.089.364,89
8.240.544.325,40
Minas Gerais
26.555.017.384,87
17.075.765.819,42
9.479.251.565,45
Paraná
21.686.569.501,93
9.219.952.959,85
12.466.616.542,08
Rio Grande do Sul
21.978.881.644,52
9.199.070.108,62
12.779.811.535,90
Rio de Janeiro
101.964.282.067,55
16.005.043.354,79
85.959.238.712,76
São Paulo
204.151.379.293,05
22.737.265.406,96
181.414.113.886,09
Maranhão - O que recebe mais esmola, seguido da Bahia e do Pará.

E a conta só não está mais feia porque não listamos Brasília, a CAPITAL DOS "ALI-BABÁS"...

Agora você entende porque a popularidade "deles", lá em cima, é muito alta?
Dos estados da federação:
a) 18 = Dão prejuízo, recebem, mordem...
b) 08 = Dão Lucro (Pagam para Viver). 

segunda-feira, 18 de março de 2013

O mundo está chegando a 7 bilhões e 200 milhões de habitantes. Quase 1 bilhão e 500 milhões vivem na mais alarmante e assustadora miséria. Não confessada.

Helio Fernandes
O mundo está cada vez mais desigual e abandonado. China, Índia/ Paquistão e Indonésia acumulam população de quase a metade do total. A começar pela ONU e pelos países ricos ou desenvolvidos, falam em combater a miséria, mas não saem do palavreado vazio, inútil e inócuo.

Enquanto pregam a ajuda ou providências para eliminar a desigualdade, ela vai cada vez “desigualando” mais. Pelos últimos dados (escondidos pelos países que dominam o mundo), a miséria total já atinge 1 bilhão e 500 milhões de pessoas.
Num cálculo fácil, que não pode ser negado, de cada 5 pessoas que habitam este mundo irreparável, uma não tem o que comer, onde morar, pelo menos tentar se mudar dessa situação para outra não tão dilacerante, angustiante e comovente.
Nesse 1 bilhão e 500 milhões, não incluí os protegidos (?) de Dona Dilma, que recebem 70 reais por mês. É que ela, acredito que com toda sinceridade, admite que está salvando a humanidade. Como ou com que fórmula, renovação ou revolução, será possível obter a tão proclamada igualdade?
Não se trata nem empobrecer os ricos e sim enriquecer os pobres. Ou pelo menos o que seria uma conquista: que apenas não passassem fome, não vivessem totalmente abandonados.
REFORMA MINISTERIAL
Dona Dilma passou o sábado e o domingo em conversas para trocas alguns titulares. Três cargos especialmente importantes.
1 – Moreira Franco, com longa carreira, incluindo o governo do Estado do Rio, estava insatisfeito como titular de Assuntos Estratégicos, sem nada a fazer. Foi transferido para a notável Secretaria de Aviação Civil. Moreira é nomeado, mas quem levantou vôo foi Michel Temer.
2 – Eu disse aqui, semana passada, que Brizola Neto deixaria o Ministério do Trabalho, para Dona Dilma prestigiar o ex-marido. Ele quer voltar para o PDT depois de 13 anos, a ficha está com Carlos Lupi. Afirmação tranquila dela: “Só assino a ficha, se Brizola Neto for demitido e nomeado um homem totalmente ligado a mim”. Nenhum problema para o ex. Brizola saiu, entra Manuel Dias, indicado por Lupi, a ficha do ex será assinada. (Para quê mesmo?)
3 – A presidente precisa “fazer” um Ministro de Minas. Tirou Mendes Ribeiro da Agricultura. Como ele é deputado federal e o suplente que está no cargo é ligadíssimo ao Planalto, o já ex-ministro vai para uma secretaria incógnita.
O empresário Jorge Gerdau deu entrevista sobre reforma ministerial. Textual: “39 Ministros é burrice”. Acertou na crítica, errou no adjetivo e no alvo. Burrice é o Presidencialismo-pluripartidário. Este é próprio do Parlamentarismo. Com 513 deputados e 81 senadores, é surpreendente que o presidente, seja quem for, consiga se compor sem os partidos.
FHC disse, “sem medidas provisórias é impossível governar”. Com elas ou sem elas, mas com esse presidencialismo amaldiçoado, o resultado e Eduardo Alves presidente da Câmara, Renan do Senado, Eduardo Cunha, líder do PMDB. E, lógico, esse pastor racista, homofóbico e corrupto, presidindo a Comissão de Direitos Humanos. É desumano.
DILMA E CAMPOS ABUSAM DA MÁQUINA
A presidente da República e o governador de Pernambuco não saem da televisão. Diariamente, várias vezes, como é que podem governar? E o TSE não vê nada? Que estejam em campanha, é impossível negar. Mas que seja absurdamente debaixo dos holofotes?
Vá lá, ela é candidata à reeleição, já disse isso publicamente, usando o próprio governador como porta-voz. E ele, que afirma que não é candidato, o que faz de forma delirante na televisão?
LINDBERGH x PEZÃO
Será um massacre. O senador do PT ganha do vice de Cabral, mesmo este sendo desabusado aproveitador da máquina. Cabral ainda não sabe se fica no governo até o fim, se garantir um ministério no segundo governo Dilma. Ou se sai 9 meses antes, com a mesma recompensa de um ministério. Assim, Pezão assumiria em março de 2014, disputando a reeleição. Na nova terminologia brasileira: não foi eleito, mas tenta a “reeleição”.
POR QUE PRESIDIR TV ESTATAL, SEM AUDIÊNCIA?
João Sayad foi Ministro de Estado, não por muito tempo, é claro. Depois de algum tempo, foi presidente de uma televisão estatal, sem ninguém vendo, como todas. Agora termina seu mandato, luta para continuar. Por quê? Qual a vantagem?
TV BRASIL NO PRIMEIRO MANDATO DE LULA
Quando foi noticiado que seria criada mais uma televisão estatal, idéia do Ministro Franklin Martins, telefonei para ele. Nunca havia falado com ele, puro espírito público. Fui amigo do pai, Mario Martins, fizemos campanha em 1965/66, ele para senador (eleito) eu para deputado (cassado).
Falamos mais de meia hora, ele entusiasmado, eu contando a história das televisões estatais, fracasso completo, com exceção da BBC (Inglaterra) e a RAi 1, RAI 2 e RAI 3 (Itália). Uma controlada pelo Partido Comunista, outra pelo Socialista, a terceira pelos conservadores.
O governo não interferia, os partidos eram fortíssimos, o resto ficava com correligionários não politizados. Franklin me contestou, garantiu que seria um sucesso.
PS – Até hoje, só dá “traço” nas pesquisas, sinal de que ninguém vê. E o desperdício de dinheiro nesses 8 anos, na casa dos bilhões e bilhões.
PS2 – Mas ainda existe gente “desprendida” como Sayad, que luta pela presidência. Não dessa, mas de outra, são muitas.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Fux: STF deve analisar ações sobre royalties em conjunto

 O Supremo Tribunal Federal deve fazer um julgamento conjunto para analisar a procedência das ações diretas de inconstitucionalidade que os Estados produtores de petróleo moverão contra uma nova fórmula de distribuição dos royalties pagos pela exploração da commodity, disse o ministro Luiz Fux, do STF nesta sexta-feira.
Rio de Janeiro e Espírito Santo já entraram com Adins contra a medida e o governo de São Paulo enviará ainda nesta sexta ao Supremo sua contestação à nova fórmula de distribuição, que reduz a participação de Estados produtores e eleva a de não produtores, inclusive em campos de petróleo que já estão em operação.
"Quando as ações estão tão vinculadas assim elas são reunidas para julgamento simultâneo... um Estado produtor não pode receber um tratamento e outro diferente",disse Fux a jornalistas no Rio de Janeiro.
O ministro também disse que não deve haver uma decisão liminar sobre o assunto, a não ser que tomada pelo plenário da Corte, e que a medida deve começar a ser discutida na semana que vem e pode ser analisada brevemente, já que pode representar riscos ao pacto federativo.
"O ideal é que a liminar tenha participação do plenário por se tratar de um tema federativo... deve ser uma decisão colegiada. A lei permite uma liminar referendada pelo plenário", afirmou o Ministro da Suprema Corte.
"Se verificarmos que há um problema que gera abalo institucional, muito urgente e uma repercussão grave no pacto federativo... é dever de ofício tomar providências ágeis", acrescentou.
No final de 2012, Fux concedeu liminar em decisão monocrática que impediu que o Congresso analisasse à época os vetos da presidente Dilma Rousseff à nova fórmula de distribuição dos royalties.
A liminar foi posteriormente derrubada pelo plenário da Corte, abrindo caminho para a queda do veto, e Fux chegou a ser criticado por outros ministros por tomar sozinho a decisão sobre um tema que consideravam delicado.
"Cada ministro tem a sua independência, mas é claro que temos independência jurídica e a avaliação de quando vai se decidir cabe ao ministro para quem o processo foi distribuído", afirmou. A ministra Cármen Lúcia foi designada relatora das Adins já levadas à Corte por Rio de Janeiro e Espírito Santo.
A polêmica sobre a divisão dos royalties do petróleo começou quando o governo decidiu criar um novo marco regulatório para a exploração do óleo no país, determinando que os campos do pré-sal seriam licitados pelo regime de partilha e não mais por concessão.
Os parlamentares dos Estados não produtores, ampla maioria no Congresso, viram na mudança uma oportunidade de fazer uma nova divisão dos royalties entre Estados e municípios, sem qualquer privilégio para os Estados produtores, mexendo inclusive nos contratos já em vigor.
Aprovada pelo Congresso, essa nova divisão foi vetada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010.
No governo Dilma, os parlamentares dos Estados não produtores voltaram à carga e aprovaram mais uma vez uma nova divisão dos royalties no ano passado, o que foi vetado pela presidente.
Esse veto foi derrubado pelo Congresso na semana passada.
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier)

terça-feira, 12 de março de 2013

Afinal, o que realmente é justo nessa briga pelos royalties do petróleo?

Carlos Newton

Muita gente fala sobre a questão dos royalties do petróleo, mas poucos realmente estão conscientes do que significa a nova legislação. Quase todos julgam que os novos critérios referem-se apenas à exploração das reservas do chamado pré-sal, mas na verdade a reforma da lei atinge também os poços de outras áreas que já estavam sendo exploradas mais próximas à costa e até em terra firme, e que oferecem real perigo de contaminação ambiental.

Lembrem-se que a indústria de petróleo é muito poluente, desde a perfuração, passando pela distribuição, pelo refino e pela transformação – não há etapas “limpas” na cadeia do petróleo, que fique bem claro.

Quando o então presidente Lula fez aquela série de pronunciamentos sobre as “riquezas do pré-sal”, tirando uma onda e dizendo que o Brasil iria entrar para a OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo), sem querer ele despertou uma cobiça colossal em todos os Estados onde não há exploração e produção.

Começaram a surgir os projetos de reformas da Lei dos Royalties, porque cada um queria garantir sua parte nesse latifúndio marinho. Mas não foi isso que o Congresso votou. O novo texto reduz o pagamento de royalties e participações especiais aos Estados e Municípios produtores e confrontantes, e o faz não apenas em relação aos contratos futuros, mas também em relação àqueles já firmados sob a vigência da Lei nº 9.478/97. Ou seja, a reforma é uma lei que está retroagindo e atinge o chamado ato jurídico perfeito, não há dúvida.

A nova lei determina que esses valores suprimidos dos Estados e Municípios produtores e confrontantes serão redirecionados a dois fundos e repartidos entre todos os Estados e Municípios da Federação, segundo os critérios de distribuição do Fundo de Participação dos Estados e do Fundo de Participação dos Municípios.

Se a nova lei prevalecer, será necessário alterar a Constituição, que estabeleceu um acordo para compensar os Estados não-produtores ao prever que o ICMS, no caso do petróleo, seria cobrado no destino e não na origem (onde é produzido). Detentor de cerca de 80 % da produção de petróleo nacional, o Rio abriu mão dos ganhos tributários em troca dos royalties. Fez um péssimo negócio, que agora pretenderá rever, mas não tem cacife no Congresso.

SERÁ JUSTO?

A grande dúvida é saber se essa mudança é justa, especialmente diante de um fato: o Brasil está pleiteando, junto à das Nações Unidas, a extensão dos limites de sua plataforma continental além das 200 milhas náuticas (370 km), reivindicando uma área de 963 mil km². Hoje, os espaços marítimos brasileiros atingem aproximadamente 3,5 milhões de km².

Detalhe importante: a Zona Econômica Exclusiva, que delimita águas nacionais e internacionais, é fixada, em princípio, por uma linha situada a 200 milhas marítimas da costa, mas pode ter uma extensão maior, de acordo com a plataforma continental. No caso do pré-sal, as reservas já descobertas nos litorais de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, estão dentro da Zona Econômica Exclusiva.

A exploração dos recursos do subsolo, do solo e das águas sobrejacentes na Zona Econômica Exclusiva é prerrogativa do país costeiro, segundo a ONU. Dentro desses mesmos critérios, portanto, no plano interno os Estados e Municípios confrontantes devem ter direito a essas prerrogativas, o que é claro e justo, sem dúvida.

Mas é justo também que os demais municípios brasileiros se beneficiem das riquezas do pré-sal, que faz tempo já começaram a ser exploradas e em dezembro de 2012 atingiram 11,5% de toda a produção de petróleo no país.

A produção de petróleo e de gás natural no pré-sal foram recorde naquele mês: 242,7 mil barris diários de petróleo e 76,2 milhões de metros cúbicos diários de gás. O crescimento é de 44,8% e 6,8%, respectivamente, na comparação com dezembro do ano anterior.

A produção foi registrada em 15 poços: cinco no campo de Baleia Azul, quatro no de Lula, dois no de Jubarte, dois no de Marlim Leste, um em reservatório compartilhado pelos campos de Caratinga e Barracuda e outro em reservatório compartilhado pelos campos de Marlim e Voador. E já começou a produção de um novo poço do pré-sal, no campo de Baleia Azul, com produção de 6,1 mil barris de “óleo equivalente” por dia, que inclui petróleo e gás natural.

O QUE SERIA JUSTO?

Seguindo essa linha de raciocínio, seria justo que houvesse dois critérios: um, respeitando a legislação antiga e os direitos dos Estados e Municípios produtores ou confrontantes; e o segundo critério, com a nova legislação reduzindo esses pagamentos e garantindo uma maior distribuição aos Estados e Municípios produtores ou confrontantes, no caso específico do pré-sal.

Mas quem quer saber o que realmente é justo? Na verdade, o Brasil deveria repensar toda a legislação de royalties da mineração em geral, e não apenas do petróleo, como defende no Blog o geólogo Ricardo Sales, que tem sido mal interpretado em suas teses, aqui neste este espaço realmente livre.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Furacão sobre Cuba

Grande parte dos neurônios da esquerda triunfante brasileira foi irremediavelmente perdida na guerra fria. Com seus aliados cubanos, ela nos jogou no século passado durante a visita da blogueira Yoani Sánchez.

Sartre pediria um dose de absinto para entender que outro furacão ameaça Cuba: a revolução digital. Marx precisaria de boas almofadas para acomodar seus furúnculos no bumbum ao contatar que uma ditadura comunista não resiste ao avanço tecnológico e científico da humanidade.

Cuba e Venezuela estão ligadas por fibra ótica. Do ponto de vista técnico, a ilha poderia estar toda conectada ao mundo e, pela criatividade e boa educação de seu povo, achar novos caminhos para superar seu atraso econômico. Mas o instrumento não pode ser usado em sua amplitude porque ameaça a estabilidade do governo. Para que o governo exista o atraso precisa sobreviver.

Yoani não é a primeira voz dissidente em Cuba. Mas foi a que melhor usou a conexão com o mundo não só para divulgar seus artigos, mas para garantir algum nível de proteção diante da burocracia. De longe, com seus cabelos longos, saias compridas, pode sugerir aquela personagem que sobe no fio e desanda a fazer milagre no filme Teorema, de Pasolini. Mas é articulada, responde a todas as perguntas, até às mais provocativas, e certamente também foi arrastada para o século passado com aquelas pessoas gritando palavras de ordem.

Digo isso porque no seu blog confessou que a experiência com os militantes brasileiros lhe lembrou coisas parecidas em Cuba, sobretudo os gritos de "traidora" contra uma vizinha que iria para o Porto de Mariel na grande debandada permitida pelo governo. Numa entrevista ressaltou que nem os jovens cubanos usam mais o termo ianque. Um forte cheiro de naftalina exalou não só dos cartazes e gritos, mas de toda a história da campanha organizada pela embaixada cubana, com apoio do batalhão digital do PT.

O curioso é que dentre aqueles cartazes havia um que Yoani empunharia com naturalidade: o que pede o fim do embargo econômico à ilha. O problema é o bloqueio mental, porque torna mais denso o cerco econômico. A manobra articulada pelos cubanos e seus aliados na esquerda é típica de estrategistas que perderam o contato com a realidade. Constantemente obtêm o oposto do que projetaram.

A campanha contra Yoani ampliou a repercussão de sua visita ao Brasil e estendeu o halo de simpatia em torno de uma pessoa que luta pela liberdade de expressão. Em todos os contatos espontâneos ela recebeu carinho no País. Isso talvez tenha mostrado rapidamente a uma estrangeira que nossa política externa expressa a vontade de um partido dominante, não a vontade nacional.

Os neurônios perdidos na guerra fria fazem enorme falta à esquerda no poder. Por que não contestar com argumentos a luta pela liberdade de expressão num regime ditatorial? Simplesmente porque a burocracia cubana e, agora, a brasileira já não se dispõem ao debate, apenas à desqualificação dos que delas divergem.

No livro de Reinaldo Arenas Antes que Anoiteça segui, emocionado, alguns lances do aniquilamento de uma geração de intelectuais e poetas pelas forças da repressão. Percebi que, tanto nele como em Raúl Rivero e mesmo em Juan Pedro Gutierrez, que vive em Havana, existe um grande vínculo com a vida, com os sentidos, e intuí que talvez venha daí a força para prosseguir adiante, apesar da aspereza do cotidiano numa ditadura.

No dossiê que os burocratas cubanos prepararam contra Yoani consta que ela gosta de comer bananas e, às vezes, tomar cerveja com os amigos. Seu último fim de semana foi passado no Rio. Deve ter percebido que o crime que lhe atribuem é uma delinquência de massa, com tanta gente tomando cerveja num domingo de muito calor. A burocracia investe contra isso não apenas pela cerveja ou mesmo pelas bananas. Ela investe contra o prazer, contra a vida, da mesma forma que investiu contra os antecessores de Yoani. Esse é o núcleo indestrutível que ela não consegue alcançar. Suas táticas puritanas no Brasil, então, não têm a mínima chance de prosperar.

Yes, nós temos bananas. O Brasil não é só um grupo de caras de barba vociferando nas ruas e nos blogs. A passagem de Yoani foi uma contribuição nacional para iluminar a realidade cubana e dissipar a aura de romantismo em torno da revolução. Os adversários ajudaram, é verdade. Fizeram a parte do leão, admito. Se continuo nesse tom, acabo me empolgando e escrevendo que os adversários são bons companheiros, ninguém pode negar...

Em alguns momentos você pode errar de século ou mesmo de alvo. Os sequestradores do embaixador americano, em setembro de 1969, quase o confundiram com o embaixador de Portugal. Quando houve um quebra-pau em Minas na passagem do Brizola por BH, um pouco antes do golpe de 64, José Maria Rabelo era protegido por um segurança que socava todo mundo aos gritos de "vamos acabar com esses comunistas!". José Maria agarrou-o pelos braços e disse: "Comunistas somos nós, comunistas somos nós". E ele respondeu: "Ah, bem".

A recepção que cubanos e petistas eletrônicos deram a Yoani não tem a graça do século passado. É um equívoco que envolve o destino de 11 milhões de cubanos e a reputação internacional do Brasil. No passado, pelo menos, havia alguma imaginação. Se um dia a esquerda encastelada no poder for obrigada a voltar a lutar nas ruas por uma causa justa, estará perdida. Imaginem quem será convencido por um grupo de pessoas, narizes de palhaço, gritando coisas do século passado... Ainda não perceberam que o século passou e levou consigo a Juventude Hitlerista, os Guardas Vermelhos, deixando-nos apenas com uns estridentes palhaços chamando de traidora uma jovem mulher cuja vida é o exercício de liberdade.

Eduardo Suplicy bem que tentou fazê-los discutir, mostrar que tudo aquilo era absurdo. O embaixador cubano chegou a perguntar se o senador não era da CIA. Suplicy da CIA? Só quem não o conhece poderia pensar nisso. E quem conhece um pouco a CIA sabe que, apesar de todas as suas loucuras, não seria ousada a esse ponto.
* Fernando Gabeira é jornalista.
 

domingo, 3 de março de 2013

Limite de mandatos

A crítica do presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa aos “políticos profissionais”, defendendo a limitação de mandatos parlamentares na mesma linha proposta pelo partido que a ex-senadora Marina Silva pretende organizar, provocou não apenas as especulações naturais de que estaria falando em causa própria, se apresentando como uma alternativa, como também comentários mais ácidos de políticos que, por enquanto preferem ficar no anonimato.
Há os exemplos concretos, de grandes homens públicos que tiveram vários mandatos seguidos no Congresso, como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Teotonio Vilela, além de uns poucos atuais, o que leva a crer que a questão seja de qualidade individual, e não de tempo de mandato. Há também o fato de que entre os condenados do mensalão a maioria é de políticos de poucos mandatos, quando não de um apenas.
Há também os argumentos jurídicos, que dizem ser flagrantemente inconstitucional uma decisão nesse sentido, pois nas condições de elegibilidade tal proibição não figura. Seria preciso modificar a Constituição para impor essa restrição.
Há também quem lembre que o ministro Joaquim Barbosa, assim como todos os membros do STF, têm mandatos vitalícios, o que por si só denotaria uma incoerência de sua parte criticar a longevidade dos políticos que, em vez de serem nomeados, são eleitos pelo voto direto dos cidadãos.
A campanha da ex-senadora Marina Silva, que pretende que seu novo partido seja “diferente” dos existentes, também não encontra muito eco entre os políticos que poderiam formar em sua bancada, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, com o PSD do ex-prefeito paulista Gilberto Kassab, o protótipo de “mais do mesmo” no campo partidário.
O PSD foi uma válvula de escape para políticos incomodados em seus partidos originais, que gostariam de aderir ao governo Dilma. Conseguiu formar a terceira maior bancada da Câmara e transformar-se não em mais um dos muitos partidos aliados, mas em um dos principais sustentáculos da base governista. Embora tanto Kassab quanto Marina tenham definido seus respectivos partidos como “nem de centro, nem de direita, nem de esquerda”, ou ainda “nem governo nem oposição”, os dois partem de pontos diferentes.
Kassab formou seu partido com a adesão de políticos, Marina tenta erguer o seu através de petição pública. Por essas coincidências da política, os dois podem estar também em polos opostos na eleição presidencial de 2014, e nenhum dos dois com a presidente Dilma, pelo menos no primeiro turno.
Marina deve ser a candidata a presidente mais uma vez, na REDE ou em algum partido tradicional que a abrigue. Já Kassab pode levar seu PSD a apoiar o governador Eduardo Campos, se ele sair mesmo candidato pelo PSB. O início da caminhada do PSD teve todo o apoio do PSB de Campos, que chegou em determinado momento a ser cogitado como o partido que abrigaria os dissidentes caso o PSD não conseguisse sair do papel.
Da mesma maneira que hoje Marina tem como plano B se unir a algum partido que não esteja na órbita governista, ou que queira sair dela para tentar um voo solo. O presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, surge como uma possível candidatura alternativa no rastro desse movimento contra a política tradicional, mas o exemplo mais próximo que temos dessa experiência é o hoje senador Fernando Collor, que se apresentou como candidato antipolítico na eleição de 1989, apesar se pertencer a uma família tradicional da política alagoana.
Teve êxito na sua farsa eleitoral, mas acabou sendo impedido por um movimento popular que tomou conta das ruas do país da mesma maneira que, meses antes, a maioria do eleitorado pensou ter visto nele aquele que redimiria a política nacional.
Hoje, Collor, eleito senador, faz a política mais tradicional que se possa pensar, no sentido negativo com que essa política é vista pela opinião pública, aliado a antigos adversários como o PT, Sarney, Lula e Renan Calheiros.