Wagner Pires
O governo está contando com o setor privado para ver disparar os
investimentos sob o regime de concessões. O Brasil depende do sucesso
dos leilões, já que, da parte do governo não dispomos – pelo menos sem
fazer mais dívidas – de recursos para promover a infraestrutura.
Dependemos, também, do nível de consumo. E o governo conta com a
recomposição salarial do início de 2014 para gerar um novo ciclo de
aumento da demanda, hoje estagnada em pífios 0,3% do PIB, segundo o
IBGE. Como o gatilho salarial só irá ocorrer no ano que vem, dando
reajustes aos trabalhadores, o consumo, neste fim de ano, dependerá mais
do mercado de crédito.
Especialistas dizem que há espaço para o aumento do crédito à
população. Segundo o diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas
da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e
Contabilidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira, as operações de crédito
dependem de um ambiente de redução das taxas de juros e dos spreads
bancários (diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar e a
taxa que ele paga ao captar dinheiro), além de aumento dos prazos médios
de financiamento e de queda nos percentuais de inadimplência.
MAIS CRÉDITO
De junho de 2003 ao mesmo mês de 2013 a concessão de crédito no
Brasil cresceu de R$381,3 bilhões para R$ 2,5 trilhões, volume que
representa uma expansão de 563,8%. Em relação ao Produto Interno Bruto
(PIB), que é o total da riqueza produzida no país, o volume subiu de
24,7% para 55,2%.
Na avaliação de Oliveira, existem condições favoráveis na economia
para que se conceda cada vez mais crédito. “Tivemos algumas
turbulências, com as instituições financeiras do setor privado mais
seletivas, mas essas restrições foram compensadas pelos bancos públicos e
ainda temos como avançar mais”, diz o executivo. Segundo ele, em países
com tamanho da economia semelhante ao do Brasil, o volume de crédito
atinge 100% do PIB.
Ocorre que as famílias já comprometeram 44,82% do seu orçamento com
dívidas, segundo o relatório do Banco Central, e o Copom tem aumentado a
taxa básica de juros (Selic), o que acarreta, também, o aumento das
taxas praticadas pelos bancos, cuja captação se torna mais onerosa. E
isso coloca em dúvida o que os especialistas alegam sobre o mercado de
crédito.
ESTOQUES ALTOS
Fato relevante para o baixo crescimento da economia este ano é que a
indústria avançou 2% do segundo trimestre – bom crescimento –, mas
acabou acumulando R$ 26,7 bilhões em estoques, ratificando os sinais de
baixa demanda dados pelo IBGE. Estes estoques deverão ser consumidos
antes que a própria indústria retome a produção. Verificamos isso já em
julho – a indústria recuou os mesmos 2% que havia avançado.
A indústria nacional está assim: avança e recua, avança e recua,
conforme a formação de estoques e a demanda errática do mercado. É bem
possível que a retomada sustentável da indústria ocorra somente a partir
de 2014.
Por fim, espera-se que a extensão da política de liquidez do Banco
Central americano diminua as pressões sobre o câmbio e sobre a inflação.
Que a economia nacional atraia o investimento estrangeiro direto (IED) e
desperte o “espírito animal” dos empresários brasileiros.