segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Governo não tem recursos para investir em infraestrutura


Wagner Pires
O governo está contando com o setor privado para ver disparar os investimentos sob o regime de concessões. O Brasil depende do sucesso dos leilões, já que, da parte do governo não dispomos – pelo menos sem fazer mais dívidas – de recursos para promover a infraestrutura.
Dependemos, também, do nível de consumo. E o governo conta com a recomposição salarial do início de 2014 para gerar um novo ciclo de aumento da demanda, hoje estagnada em pífios 0,3% do PIB, segundo o IBGE. Como o gatilho salarial só irá ocorrer no ano que vem, dando reajustes aos trabalhadores, o consumo, neste fim de ano, dependerá mais do mercado de crédito.
Especialistas dizem que há espaço para o aumento do crédito à população. Segundo o diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira, as operações de crédito dependem de um ambiente de redução das taxas de juros e dos spreads bancários (diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar e a taxa que ele paga ao captar dinheiro), além de aumento dos prazos médios de financiamento e de queda nos percentuais de inadimplência.
MAIS CRÉDITO
De junho de 2003 ao mesmo mês de 2013 a concessão de crédito no Brasil cresceu de R$381,3 bilhões para R$ 2,5 trilhões, volume que representa uma expansão de 563,8%. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que é o total da riqueza produzida no país, o volume subiu de 24,7% para 55,2%.
Na avaliação de Oliveira, existem condições favoráveis na economia para que se conceda cada vez mais crédito. “Tivemos algumas turbulências, com as instituições financeiras do setor privado mais seletivas, mas essas restrições foram compensadas pelos bancos públicos e ainda temos como avançar mais”, diz o executivo. Segundo ele, em países com tamanho da economia semelhante ao do Brasil, o volume de crédito atinge 100% do PIB.
Ocorre que as famílias já comprometeram 44,82% do seu orçamento com dívidas, segundo o relatório do Banco Central, e o Copom tem aumentado a taxa básica de juros (Selic), o que acarreta, também, o aumento das taxas praticadas pelos bancos, cuja captação se torna mais onerosa. E isso coloca em dúvida o que os especialistas alegam sobre o mercado de crédito.
ESTOQUES ALTOS
Fato relevante para o baixo crescimento da economia este ano é que a indústria avançou 2% do segundo trimestre – bom crescimento –, mas acabou acumulando R$ 26,7 bilhões em estoques, ratificando os sinais de baixa demanda dados pelo IBGE. Estes estoques deverão ser consumidos antes que a própria indústria retome a produção. Verificamos isso já em julho – a indústria recuou os mesmos 2% que havia avançado.
A indústria nacional está assim: avança e recua, avança e recua, conforme a formação de estoques e a demanda errática do mercado. É bem possível que a retomada sustentável da indústria ocorra somente a partir de 2014.
Por fim, espera-se que a extensão da política de liquidez do Banco Central americano diminua as pressões sobre o câmbio e sobre a inflação. Que a economia nacional atraia o investimento estrangeiro direto (IED) e desperte o “espírito animal” dos empresários brasileiros.

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