Carlos Newton
A legislação em vigor determina que haja concorrência para outorga de
concessões de televisão. Essas normas acautelatórias foram criadas
ainda no regime militar. Silvio Santos, por exemplo, teve de se virar
para conseguir derrotar a editora Abril e o Jornal do Brasil, na
licitação aberta pelo governo João Figueiredo, conseguiu ganhar suas
primeiras concessões e iniciou assim a formação da rede nacional do SBT.
Na redemocratização, o governo Sarney começou a bagunçar o setor das
comunicações, distribuindo concessões de rádios e televisões para
políticos da base aliada, que é uma espécie de gangrena que suga
eternamente o Poder, mas tendo sempre o cuidado de mantê-lo vivo, para
não exaurir a fonte.
A prática inaugurada por Sarney continuou no governo FHC e também foi
adotada pelo PT, é claro. A justificativa é de que a legislação somente
se refere a emissoras abertas, porque na época em que foi baixada não
existiam canais por assinatura. E como isso legalizou-se o
protecionismo, como se a lei tivesse sido revogada.
EMISSORAS ABERTAS
Ocorre que, de lá para cá, o conceito de emissora aberta mudou muito.
Hoje, os aparelhos de televisão captam mais de 100 estações, incluindo
os antigos canais da TV aberta (que iam apenas do 2 ao 13, lembram?) e
os demais, por sistema UHF, como a MTV, a NGT, a TV Justiça, a TV Câmara
e por aí em diante. Um verdadeiro festival.
Pois bem. Em busca de sua perpetuação no Poder, a tática do PT tem
sido a de fortalecer os pastores evangélicos. Assim, além da Rede
Record, que apóia o governo incondicionalmente e se formou com base na
riqueza da Igreja Universal do Reino de Deus, estão sendo fortalecidas
pelo Ministério das Comunicações (leia-se: Paulo Bernardo, um dos
ministros ainda leais a Dilma) mais duas poderosas cadeias de emissoras
evangélicas – uma da Igreja Internacional, do pastor R.R. Soares, e a
outra do apóstolo Valdemiro Santiago, ambos egresso da Igreja Universal.
R.R. Soares aluga espaço na Rede Bandeirantes, já tem sua própria
operadora de TV por assinatura (“Nossa TV”) e controla mais 60 emissoras
abertas, espalhadas pelo país. Agora, acaba de conseguir da Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel) a permissão para comprar mais três
operadoras de serviço especial de TV por assinatura do grupo Abril.
APÓSTOLO CALOTEIRO
Correndo por fora, desponta o líder da Igreja Mundial, Valdemiro
Santiago, que se autodenomina “apóstolo”. Ele segue o caminho trilhado
por R.R. Soares e também já ganhou do governo um grande número de
concessões de emissoras abertas. Desde 2008, arrenda o canal Rede 21, do
grupo Bandeirantes, e aluga espaço na RedeTV! durante a madrugada e o
início da manhã.
Recentemente, Valdemiro que se diz milagreiro e apto a curar quase
todas as doenças, entrou em negociações para comprar a rede MTV. A
informação foi confirmada pelo deputado do PSC do Paraná, Ricardo
Arruda, administrador de empresas e gestor financeiro ligado à Igreja.
Mas ninguém sabe se há veracidade nessa informação, porque Valdemiro
alugava 10 horas diárias na CNT e saiu em maio, dando um cano na
emissora da família Martinez.
Detalhe importante é que Valdemiro está sendo atropelado pela Igreja
Universal. Além de comprar os horários do “apóstolo” na CNT, a Igreja
Universal está procurando as outras emissoras que alugam espaços para o
dono da igreja Mundial. Chegou a oferecer o dobro do valor e conseguiu
tirar o rival do ar em horário nobre da RedeTV!. E tudo isso em plena
crise da Record, com centenas de demissões nos últimos meses.
No meio da confusão, a presidente Dilma está confiante de que terá
apoio dessas três maiores seitas evangélicas, que trariam as outras de
roldão. Mas as coisas não parecem simples assim. Os líderes das igrejas
evangélicas são malandríssimos e gostam de apoiar quem vai ganhar (ou já
ganhou) a eleição. Por isso, não fazem acordos e ficam em cima do muro
até a undécima hora, como se dizia antigamente.
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