sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lula e Dilma jogaram Meirelles para escanteio e ele agora ameaça se unir a Ricardo Teixeira para gerenciar a Copa.

Carlos Newton
Henrique Meirelles é a grande incógnita do momento. Está desesperado e deprimido, não sabe o que fazer da vida. É um pobre menino rico, que agora não sabe se permanece como um dos principais nomes da organização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 ou se aceita o convite do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para ser o gerente da Copa de 2014.
Atualmente, ele apenas representa a União no Conselho  da Autoridade Pública Olímpica, um colegiado sem estrutura que jamais se reuniu. É muito pouco para um homem que sonhava com a Presidência da República, caiu na lábia de Lula e hoje se vê perdido e sem destino.
Milionário, ex-presidente mundial do Bank Boston, que lhe paga régia aposentadoria, em 2002 Meirelles deslumbrou-se com a política, filiou-se ao PSDB, gastou uma fortuna na campanha para se eleger o deputado federal mais votado  de Goiás (teve 183 mil votos), primeiro passo de sua escalada para a Presidência da República.
Porém, jamais tomou posse como deputado. Querendo passar uma imagem de austeridade para a comunidade financeira internacional, Lula convidou-o para suceder Armínio Fraga como condutor da política monetária. Meirelles aceitou e foi um dos principais responsáveis por ajudar o país a enfrentar a quebradeira generalizada de 2008.
Em 2010, o PTB de Roberto Jefferson ofereceu-lhe a legenda para concorrer ao Planalto, e o PP acenou que seria possível uma aliança. Mas Meirelles não resistiu aos argumentos de Lula, filiou-se ao PMDB para tentar ser vice de Dilma Rousseff. Enredou-se nas armadilhas internas do partido e perdeu a disputa para Michel Temer.
No desespero, espalhou que gostaria de ser ministro da Casa Civil, mas Antonio Palocci foi escolhido. Depois, Palocci caiu e ele nem foi lembrado. Ficou mesmo no ostracismo, junto com Ciro Gomes, outro que caiu na lábia de Lula. Hoje, são dois perdidos numa noite suja, como na peça de Plínio Marcos.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Supremo adia julgamento da ação que tira poderes do Conselho Nacional de Justiça no combate à corrupção.

Carlos Newton
Depois de um demorado intervalo, a pretexto de tomarem um lanche, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram no início da noite que não mais iriam julgar hoje a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) proposta pela Associação dos Magistrados Brasileiros, para tirar do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) o poder de punir juízes por má conduta, sem que o caso tenha sido aprovado antes pela corregedoria do respectivo tribunal.
No intervalo da sessão de hoje, o relator, ministro Marco Aurélio, disse que não havia clima para julgar o caso. O tema, polêmico, já causou atritos entre a corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon, e o ministro Cezar Peluso, que acumula as funções de presidente do STF e do CNJ.
entrevista, a corregedora disse que há bandidos na magistratura, o que todos sabem, mas a declaração provocou uma nota de Peluso repudiando a afirmação e outra nota da Associação dos Magistrados do Brasil. Hoje, Eliana Calmon repetiu a declaração.
A expectativa é que seis ministros concordem com a AMB: o presidente Cezar Peluso, o relator Marco Aurélio Mello, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello e José Antonio Toffoli. A favor da manutenção dos poderes do CNJ estariam Carlos Ayres Britto e Gilmar Mendes. Joaquim Barbosa concorda com a última tese, mas não deve participar da sessão por motivos de saúde. A opinião de Cármen Lúcia ainda é um mistério.
Traduzindo tudo isso: a pressão da opinião pública foi tamanha, na defesa da ministra Eliana Calmon, que o Supremo afinou, como se diz na gíria.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Prazos nem tão fatais assim

Carlos Chagas
A começar pelo vice-presidente Michel Temer, e  incluindo os líderes que passam pelo gabinete da presidente Dilma Rouseff, sem esquecer alguns ministros como Ideli Salvatti, da Coordenação Política – todos são unanimes em prever para o começo do próximo ano uma razoável reforma do ministério. Parece não haver mais dúvida de que a chefe do governo aproveitará a necessidade da desincompatibilização dos ministros candidatos às eleições municipais para livrar-se de certas nomeações que precisou engolir quando de sua posse,  até agora não deglutidas. Deverão ser revistas certas  indicações feitas pelos partidos sem os cuidados da probidade e da capacidade dos indicados,  mais algumas exigências do ex-presidente Lula pela continuidade de seus apadrinhados.
Essa tendência, aliás jamais reconhecida de público pela presidente,  em suas bissextas entrevistas, daria ao atual ministério a moratória de pelo menos três meses até as mudanças? Como regra, sim, mas as exceções continuam hipóteses viáveis.  Caso surjam evidências de malfeitos na esfera do governo, ou seja, denúncias com embasamento óbvio, ministros poderão deixar de ser ministros antes do prazo.
Foi o que aconteceu até agora, com a defenestração de Antônio Palocci, da Casa Civil,  Alfredo Nascimento, dos Transportes, Wagner Rossi, da Agricultura, e Pedro Novais, do Turismo. Nelson Jobim, da Defesa, exprimiu um caso à parte, gerado pelo conflito de personalidades. Pode acontecer com outros? Pode, na dependência da revelação, pelos meios de comunicação ou pela Polícia Federal, de irregularidades comprovadas ou indiscutíveis.         
Seria prematuro, até falta de caridade cristã, alinhar previsões sobre que ministros estariam desde já  na marca do pênalti, mas basta atentar para aqueles que pouca ou nenhuma presença marcam no palácio do Planalto, entre outros atualmente  objeto de investigações  nem tão sigilosas assim pelos órgãos de informação e segurança. Quem quiser que os relacione.        
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COINCIDÊNCIAS
Em política inexistem coincidências. Será preciso, por isso, especular sobre a presença de José Dirceu e de Márcio Thomaz Bastos em Paris, esta semana, quando lá se encontra o ex-presidente Lula, recebido com  honras de chefe de estado pelo presidente francês. Tanto o ex-chefe da Casa Civil quanto o ex-ministro da Justiça tiveram razões para encontrar-se com o primeiro-companheiro nos salões do Hotel Lutétia, um dos mais tradicionais da capital francesa.
Dirceu certamente não foi tratar da eleição para a prefeitura de São Paulo, até porque o seu grupo majoritário no PT,  Construindo Um Novo Brasil,  já aderiu à imposição do Lula pela candidatura de Fernando Haddad. Como Marta Suplicy não apareceu na cidade que mais aprecia, depois de São Paulo, a conclusão é de que a sorte está selada em favor do atual ministro da Educação.  Claro que para a indicação partidária, jamais para o resultado das urnas. Mas Marta está precisando ser contida para não chutar o pau da barraca? Seria outra a finalidade do périplo francês por parte de Dirceu? Ou mera coincidência?
Quanto a Márcio Thomaz Bastos, sua presença ao lado do Lula, em Paris, significaria a busca de apoio para a indicação de quem vier a substituir a ex-ministra Ellen Gracie, no Supremo Tribunal Federal? O ex-ministro da Justiça continua peça importante junto a Dilma Rousseff,  na nomeação de ministros dos tribunais superiores. Com um empurrãozinho do ex-presidente  junto à sucessora, conseguirá emplacar quem quiser. Ou estará apenas visitando algum cliente internacional de seu movimentado escritório de advocacia?
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HARRY POTTER
Quem será o jovem senador que pela sua frequente atuação no plenário e nas comissões ganhou o apelido de Harry Potter? Levando a imaginação um pouco adiante, fica claro que aquele barbudo e ameno chefe do castelo dos bruxos do cinema  só difere do verdadeiro comandante do Senado pelo visual, que  tem  apenas  bigode. 
Parece ter voltado aquela salutar prática entre os senadores,  de botar apelido nos colegas. A Branca de Neve está licenciada, servindo a outro poder, mas a Bela Adormecida  despertou  um tanto irritada pelas dificuldades em concretizar planos futuros. O Pinóquio continua saltitante, servindo a todos os donos da Ilha dos Prazeres, enquanto o dr. Silvana permanece fechado em seu laboratório secreto, maquinando maldades para aumentar impostos, agradar o governo e retornar ao comando.  Os Três Mosqueteiros, mesmo contrariando o PMDB, investem contra a corrupção e enfrentam  os guardas do Cardeal. Este mantém-se do lado de fora, lendo tratados de sociologia. 
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O FATOR CHINA
Crescem  informações de que a China vem influindo cada vez mais na política do Paquistão, coisa capaz de irritar os Estados Unidos. A participação é antiga, vem dos tempos em que  a India tornou-se uma potência nuclear. Foram os chineses que repassaram tecnologia atômica  aos paquistaneses para fazerem a sua bomba e  equilibrarem o jogo com seus vizinhos. Agora, diante do agravamento das relações entre o Paquistão e os Estados Unidos, a China acaba de dizer outra vez “presente”.  E tem títulos para tanto, em especial a maioria daqueles da dívida pública americana.  Seria bom o Itamaraty prestar atenção na relação de forças daquela região.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nem tudo está perdido. Supremo proíbe cobrança de IPTU com alíquotas progressivas.

Carlos Newton
Às vezes, a gente é até levado a confiar na Justiça, quando sai uma sentença primorosa. O Supremo Tribunal Federal, por exemplo, declarou inconstitucional toda lei municipal que estabelecia (e estabelece) a cobrança do IPTU  – de modo transparente ou por meio de redação dissimulada (“via oblíqua”, segundo a ministra Ellen Gracie) -  com alíquotas progressivas, editadas antes de Emenda Constitucional 29/2000.   
A decisão, compatível com o expresso na Súmula 668, foi tomada contra o município de Diadema/SP, porém, em razão da relevância da matéria e ter sido proferida pelo Tribunal Pleno, por unanimidade, em sessão realizada a 1º de agosto, terá alcance nacional, devendo ser seguida por todos os Tribunais de Justiça. A decisão foi  publicada no Diário da Justiça de 31 de agosto. 
O município do Rio de Janeiro é alcançado em cheio por essa decisão, tendo em vista que a Lei Municipal 2.955, de 29/dezembro/1999  – que aplica aliquotas progressivas -  foi editada antes de 13 de dezembro de 2000, dia em que entrou em vigor a EC/2000. 
E essa Lei 2955/1999 estabeleceu a cobrança do IPTU com alíquotas progressivas pela via oblíqua, com a cobrança do tributo por meio de redação intencionalmente dissimulada, porém, de fácil comprovação.  Simples relação aritmética provava (e prova) a cobrança do IPTU por meio de alíquotas progressivas, como demonstrado pelo professor Jorge Brennand no livro sugestivamente intitulado “IPTU – Imposto Para Trambiques Urbanos”. 
No livro, o professor de Economia mostrava que um imóvel de valor venal de R$ 19.750,00 era “cobrado” com alíquota 0,00% (zero por cento) de IPTU; o de valor venal de R$ 50 mil era cobrado com alíquota de 0,725;  o de R$ 150 mil com alíquota de 1,041%; o de R$ 350 mil com alíquota de 1,132%.  As alíquotas iam subindo na medida que subia o valor venal do imóvel, até atingir a alíquota máxima de 1,2%.  
O mesmo acontecia no município de Diadema, a alíquota subia acompanhando a elevação do valor venal do imóvel.  A decisão do STF, em obediência aos princípios constitucionais de igualdade e justiça, determinou que o IPTU em Diadema fosse cobrado com base na menor das alíquotas.  
Estamos diante de uma situação de fato e de direito:  em todos os exercícios  – de 2000 até 2011 -  o IPTU do município do Rio de Janeiro foi exigido dos contribuintes (e cobrado) com base em lei inconstitucional.   
Milhares de imóveis foram levados a leilão  – segundo a prefeitura, com autorização da Justiça do Rio de Janeiro -, com base em dívidas oriundas de lei inconstitucional.  “A lei ou é constitucional ou não é lei”, como afirmou de modo peremptório o ministro Paulo Brossard ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 21/600-DF).   Fica claro que se a lei é inconstitucional não é lei, não entra no mundo jurídico, não possui validade. E sendo a lei inconstitucional, como ficam os cidadãos que perderam seus imóveis por supostas dívidas oriundas de lei inexistente?

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Terras à vista

Vasculhar o universo atrás de planetas com as mesmas características da Terra é um desafio estatístico e também tecnológico. Mas os cientistas garantem: ainda acharemos um mundo parecido com o nosso
Marco Túlio Pires
Concepção artística do HD 85512 b, um raro planeta fora do Sistema Solar que ocupa a zona habitável de sua estrela
Concepção artística do HD 85512 b, um raro planeta fora do Sistema Solar que ocupa a zona habitável de sua estrela(M. Kornmesser/ESO)
Faz apenas 19 anos que os cientistas descobriram os primeiros planetas fora do Sistema Solar - ou exoplanetas. Hoje são 685 confirmados e outros 2.000 candidatos. Mas quase nenhum pode abrigar alguma forma de vida, obsessão maior dos caçadores de novos mundos. Uma rara exceção é o planeta HD 85512 b, a 36 anos-luz de distância, um dos 50 achados mais recentes do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês). Mas por que é tão difícil encontrar um exoplaneta como a Terra? Como os astrônomos descobrem mundos fora do Sistema Solar? Em entrevista ao site de VEJA, astrônomos explicam o desafio de esquadrinhar o universo atrás de exoplanetas, falam do empenho e técnicas para acelerar o ritmo das descobertas e garantem: ainda acharemos um mundo parecido com o nosso.

Requisitos - Para que possa abrigar vida como a conhecemos na Terra, um planeta precisa cumprir uma série de requisitos. "O mais importante é estar situado na zona habitável da estrela", diz o físico Claudio Melo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e astrônomo do ESO. Trata-se da região em volta das estrelas onde a quantidade de energia solar que o planeta recebe permite a existência de água líquida na superfície, essencial à formação de vida. É onde foi encontrado o HD 85512 b. E, claro, é onde está a Terra, que ocupa bem o centro da zona habitável do Sistema Solar.Outro requisito é que o planeta seja rochoso, como a Terra e Marte. Um planeta gasoso, como Saturno é Júpiter, é considerado um ambiente hostil demais à vida. Nestes casos, as esperanças seriam depositadas em suas eventuais luas - como Europa, o mais famoso satélite de Júpiter, ou Enceladus, de Saturno.Além da posição e composição do planeta, entram também na conta: o tipo, o tamanho e a temperatura de sua estrela; a existência, disposição e dimensões de luas e planetas vizinhos; a duração do ano, a inclinação do planeta; o formato e a idade da galáxia; entre muitas outras variáveis. A lista de requisitos pode ser tão longa que acabam descartados praticamente todos os exoplanetas conhecidos - ou por conhecer. E para complicar, ao contrário das estrelas, planetas não têm brilho próprio, o que torna sua identificação um enorme desafio.
zona habitável
Técnicas - De acordo com Melo, existem dois métodos de maior sucesso para caçar exoplanetas. Um deles se chama técnica de trânsito e é usada pelo Observatório Espacial Kepler, da Nasa, a agência espacial americana. A outra, batizada de velocidade radial, está presente em um instrumento do ESO responsável pela confirmação dos 50 exoplanetas mais recentes, chamado HARPS.


A técnica de trânsito consiste em medir a diminuição de luz emitida por uma estrela quando um objeto passa à frente dela. "Se essa diminuição ocorrer de maneira cíclica e o objeto bloquear uma quantidade de luz suficiente, quer dizer que há um mundo orbitando aquela estrela", explica Melo.





Já o método da velocidade radial é um pouco mais complicado, apesar de ter o mesmo princípio: medir uma variação periódica no comportamento dos astros. Esta técnica identifica se o movimento de uma estrela está sendo influenciado pela gravidade de um eventual planeta em sua órbita. Quanto maior a influência, maior a massa do planeta. Para medir esta influência, os telescópios do ESO verificam se a estrela está "bamboleando" em função da presença de planetas. Se estiver, as ondas de luz emitidas vão se achatar ou se espaçar conforme a estrela se aproxime ou se afaste da Terra. Quando as ondas se achatam, a luz captada pelos instrumentos astronômicos tenderá à região violeta do espectro de cores. Quando se afastam, apontará para a região vermelha, no extremo oposto do espectro de luz visível. Essa variação na frequência da luz é chamada pelos físicos de Efeito Doppler, e é o que explica, por exemplo, a diferença do barulho que um carro faz ao se aproximar ou se afastar de um observador.




Dificuldades - As duas técnicas, de trânsito e velocidade radial, deduzem a existência dos planetas de modo indireto a partir de perturbações extremamente sutis. Os cientistas da Nasa acreditavam que o Kepler seria capazes de captá-las com relativa facilidade e com isso descobrir muitos exoplanetas do tamanho da Terra orbitando estrelas parecidas com o Sol. Estavam enganados.Com o Kepler e sua técnica de trânsito, os astrônomos conseguem encontrar exoplanetas do tamanho aproximado da Terra e igualmente distantes de sua estrela, mas a experiência mostrou que é preciso muito tempo para recolher e corrigir as informações. "Para que o observatório detecte outras Terras, o tempo da missão terá que ser estendido para aumentar a quantidade de observações e corrigir ruídos", explica Melo. "Seriam necessários três ou quatro anos para confirmar a existência de um planeta como o nosso."Já com a técnica da velocidade radial, usada no ESO, é possível achar astros rochosos e do tamanho da Terra. "Mas não tão distantes de sua estrela quanto o nosso planeta dista do Sol", explica Francesco Pepe, astrônomo da Universidade de Genebra, Suíça, e coordenador do projeto HARPS. O astrônomo calcula que as orbes normalmente encontradas por este método estão em média 10 vezes mais próximas de suas estrelas do que a Terra. Ou seja, fora da zona habitável.

Vida, sim. Mas inteligente?

Com bilhões e bilhões de galáxias, a chance de haver vida em outro canto do universo é bastante razoável, certo? Depende, diz o paleontólogo Peter Ward. Quanto a micróbios e bactérias, ele diz que há toda a probabilidade de encontrá-los longe da Terra. Mas, quanto à vida inteligente, a chance é praticamente nula. Afora a inviabilidade de escarafunchar cada galáxia do universo, Ward defende em seu 'Sós no Universo?' que formas complexas de vida exigem uma combinação única de fatores. 'Somos produto de um lance de sorte.'
'Pequena revolução' - Pepe é o chefe do projeto ESPRESSO, uma espécie de evolução do HARPS que vai aumentar em 100% a precisão das medições atuais do 'bamboleio' das estrelas. Quando os astrônomos apontam o telescópio que contém o HARPS para determinada região do céu a fim de medir o movimento de uma estrela, o equipamento utiliza uma lâmpada fosforescente como padrão para comparar com o raio de luz captado. "Essa comparação é necessária, porque a atmosfera da Terra provoca ruídos nas ondas de luz que precisam ser compensados via algoritmos de correção", explica Melo. O problema é que a lâmpada perde a capacidade com o tempo. "Ela vai perdendo a força e deixa o instrumento míope, comprometendo a precisão dos resultados." 


A solução para o problema é trocar a lâmpada por uma tecnologia que utilize o laser, fonte de luz muito mais estável. O projeto ESPRESSO, do ESO, vai usar um novo instrumento chamado Laser Frequency Comb (LFC, Pente de Frequência Laser), que já está sendo desenvolvido por vários grupos de pesquisa, um deles em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.



O astrônomo José Renan de Medeiros, chefe do grupo brasileiro que está participando no desenvolvimento de um LFC, diz que o protótipo do instrumento terá efeito imediato na caça aos exoplanetas. "A maior precisão do equipamento pode provocar uma pequena revolução, permitindo encontrar mais exoplanetas dentro da zona habitável de várias estrelas".



Antevendo a 'pequena revolução', Medeiros montou um time de cientistas do Brasil que está trabalhando em uma amostra de 20 estrelas bem parecidas com o Sol, todas elas possuindo uma espécie de 'Júpiter'. "A existência de um sistema planetário como o Sistema Solar parece depender fortemente da presença de um gigante gasoso", explica Medeiros. "São planetas que protegem os vizinhos do bombardeio de outros corpos, assim como Júpiter protegeu a Terra, sobretudo no início da formação de vida".



Com toda dificuldade, é possível encontrar um planeta como a Terra? "Idêntico, é provável que não", diz Pepe. "Mas um planeta bem parecido, isso sim", acredita. "De qualquer forma, só teremos a resposta se continuarmos procurando".

Os caça-planetas do ESO

HARPS
O High Accuracy Radial velocity Planet Searcher é um instrumento de alta precisão instalado em 2002 no telescópio de 3,6 metros no Observatório de La Silla, Chile. Ele utiliza a técnica da velocidade radial para encontrar planetas fora do Sistema Solar e possui uma precisão de 1 metro por segundo. A Terra, por exemplo, induz uma velocidade radial de 9 centímetros por segundo no Sol.
ESPRESSO
O Eschelle SPectrograph for Rocky Exoplanet and Stable Spectroscopic Observations é um instrumento de altíssima precisão que ainda está em fase de construção. Ele será usado a partir de 2016 no Very Large Telescope do ESO, situado no deserto de Atacama, no Chile. Utilizando um padrão laser, o instrumento será capaz de encontrar planetas do tamanho da Terra na zona habitável de estrelas parecidas com o Sol. O instrumento terá uma precisão mínima de 10 centímetros por segundo, mas o objetivo é conseguir uma precisão ainda maior.

sábado, 24 de setembro de 2011

Justiça Federal abre processo contra Macedo

Justiça Federal abre processo contra Macedo
Foto: Divulgação

DENÚNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO CONTRA O LÍDER DA IGREJA UNIVERSAL E DONO DA TEVÊ RECORD FOI ACATADA PELA JUSTIÇA FEDERAL DE SÃO PAULO; MACEDO E MAIS 3 PESSOAS RESPONDERÃO PROCESSO POR LAVAGEM DE DINHEIRO, EVASÃO DE DIVISAS E FORMAÇÃO DE QUADRILHA

Claudio Júlio Tognolli_247 - A Justiça Federal de São Paulo acaba de receber parcialmente a acusação do Ministério Público Federal em São Paulo e abriu processo contra o líder mundial da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, e mais três pessoas. 
O MPF denunciou Edir Macedo, a diretora financeira Alba Maria Silva da Costa, o bispo da IURD e ex-deputado federal João Batista Ramos da Silva e o bispo Paulo Roberto Gomes da Conceição pelos crimes de quadrilha para a prática de crimes de estelionato, falsidade ideológica, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, na forma de organização criminosa, conforme previsto na Convenção de Palermo, ratificada pelo Brasil em 2004. 
A Justiça Federal, entretanto, não recebeu a acusação do MPF pelos crimes de estelionato e falsidade ideológica. O MPF em São Paulo vai recorrer da decisão no tocante às acusações que foram rejeitadas. A Justiça Federal decretou o sigilo dos documentos do processo. 
O Ministério Público Federal em São Paulo havia denunciado a 12 de setembro passado o bispo Edir Macedo Bezerra, chefe religioso da Igreja Universal do Reino de Deus, por montar, com mais três dirigentes da igreja -- o ex-deputado federal João Batista Ramos da Silva, o bispo Paulo Roberto Gomes da Conceição, e a diretora financeira Alba Maria Silva da Costa -- uma quadrilha para lavar dinheiro da IURD, remetido ilegalmente do Brasil para os Estados Unidos por meio de uma casa de câmbio paulista, entre 1999 e 2005. 
Segundo a denúncia, de autoria do procurador da República Sílvio Luís Martins de Oliveira, o dinheiro era obtido por meio de estelionato contra fiéis da IURD, por meio do “oferecimento de falsas promessas e ameaças de que o socorro espiritual e econômico somente alcançaria aqueles que se sacrificassem economicamente pela Igreja”. 
Os quatro também são acusados do crime de falsidade ideológica por terem inserido nos contratos sociais de empresas do grupo da IURD composições societárias diversas das verdadeiras. O objetivo dessa prática era ocultar a real proprietária de diversos empreendimentos, qual seja, a IURD. 
“Apesar de os fatos denunciados remontarem ao período entre 1999 e 2005, após a tipificação, no Brasil, do crime de lavagem de dinheiro, o que ocorreu em março de 1998, a denúncia contextualiza e explica todos os antecedentes da montagem do esquema milionário e escuso de envio de dinheiro para o exterior e a criação de empresas de fachada, cujos recursos foram empregados na aquisição de diversos meios de comunicação, usados como plataforma para arrebanhar fiéis”, diz o MPF. 
A denúncia demonstra que a IURD só declara ao Fisco parte do que arrecada junto aos fiéis, apesar de a Igreja ter imunidade tributária. Somente entre 2003 e 2006, a Universal declarou ter recebido pouco mais de R$ 5 bilhões em doações, mas, segundo testemunhas, esse valor pode ser bem maior. 
O MPF diz que “relato e morte é o que afirmou o ex-diretor da IURD e ex-vereador na cidade do Rio de Janeiro, Waldir Abrão, em um instrumento particular de declaração registrado por ele em um cartório do Rio de Janeiro em 18 de novembro de 2009, seis dias antes de morrer em circunstâncias ainda não completamente esclarecidas. Acompanhado de um advogado e testemunhas, Abrão lavrou um documento informando que os dízimos e doações recebidos dos fiéis eram entregues diretamente na tesouraria da IURD, que depositava na conta da Igreja apenas 10% do valor arrecadado, sendo o restante recolhido por doleiros e remetido para o Uruguai e outros paraísos fiscais”.
Nos autos da investigação do MPF, que utiliza também documentos arrecadados no inquérito conduzido pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (e que foi remetido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo à Justiça Federal), ficou provado que as declarações de Abrão eram verdadeiras. Entre 1991 e 1992, a IURD criou duas offshores no exterior: a Investholding, sediada nas Ilhas Cayman, no Caribe, e a Cableinvest, em Jersey, uma das ilhas que compõe as Channel Islands, no Canal da Mancha, no Reino Unido, ambos notórios paraísos fiscais.
“Após a constituição dessas empresas, doleiros a serviço da IURD convertiam a moeda nacional recebida dos fiéis em dólares depositados nas contas bancárias das offshores, localizadas em Miami, Nova York e Montevidéu. Depois, o dinheiro era reconvertido em moeda nacional. Milionárias transações de vendas de dólares das contas das offshores foram feitas no Uruguai”, refere o MPF. 
O dinheiro depois foi aplicado na compra de meios de comunicação no Brasil, todos registrados em nomes de bispos ou outras pessoas ligadas à IURD. Somente em 1992, a Investholding “emprestou” para esses diretores e ex-diretores da igreja no Brasil pouco mais de Cr$ 13 bilhões. Já a Cableinvest, na mesma época, “emprestou” a essas mesmas pessoas e no mesmo ano quase Cr$ 18,5 bilhões. Os cheques dos empréstimos nunca chegaram às mãos dos mutuários, mas eram utilizados diretamente na compra das empresas de rádio e televisão. 
“Assim foi que valores doados por fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, em sua maioria pessoas humildes e de escassos recursos financeiros, sofreram uma espúria engenharia financeira para, ao final, se converterem em participações societárias de integrantes da IURD em empresas de radiodifusão e telecomunicações, certamente um destino totalmente ignorado pelos crentes e pela Receita Federal, bem como absolutamente incompatível com os objetivos de uma entidade que se apresenta como religiosa perante a Sociedade e o Estado”, afirma o MPF na denúncia. 
A Investholding e a Cableinvest tornaram-se acionistas, no Brasil, das empresas Cremo e Unimetro. A Cremo é sediada na rua São Carlos do Pinhal, em São Paulo. No mesmo prédio funcionaria o Banco de Crédito Metropolitano, posteriormente convertido por determinação do Banco Central na Credinvest Facility. Também no mesmo endereço funciona a Abundante Corretora de Seguros, cuja lista de clientes é encabeçada pela IURD e veículos de comunicação do grupo de Edir Macedo. 
Segundo relatório da Fazenda Estadual, vários pastores e diretores da IURD assumiram cargos de direção da Cremo ao longo dos anos. Em junho de 2005, um desses diretores, João Batista Ramos da Silva foi flagrado em Brasília, quando se preparava para embarcar para São Paulo com R$ 10 milhões em espécie, fato apurado separadamente em inquérito policial que tramita perante à 6ª Vara Federal de São Paulo. 
Paulo Roberto, outro ex-diretor da Cremo, foi processado por crimes contra o Sistema Financeiro Nacional e inabilitado perante o Bacen, em virtude de sua gestão à frente do Banco de Crédito Metropolitano. “Na Unimetro a história se repete. Pastores e diretores da Igreja foram diretores da empresa, que tinha como uma de suas diretoras, Alba Maria, também processada por crimes contra o sistema financeiro nacional e inabilitada pelo Bacen em virtude de sua atuação no Banco de Crédito Metropolitano. Apesar disso, ela foi nomeada diretora financeira da Record”, relata o MPF 
A Cremo, por exemplo, firmou entre 2003 e 2006 três empréstimos com Alba e a Iurd como mutuários, no valor total de R$ 9,8 milhões, mas só estão registrados R$ 7 milhões em amortizações. A Cremo transferiu recursos para a Record e comprou um avião em nome da Rádio Record. É ainda uma das 15 maiores beneficiárias de recursos da IURD, que financiou nos últimos anos 28 empresas de rádio e televisão, que receberam R$ 3,76 bilhões da Igreja. Para o MPF, essas operações e a presença de pastores e dirigentes da IURD nos quadros da empresa “apenas confirmam que IURD e Cremo são, na verdade, parte do mesmo conglomerado empresarial”. 
A maioria desses fatos do passado, entretanto, serve apenas para contextualizar como foi montado o esquema de arrecadação da IURD (como ocorreram antes de 1998, são considerados fatos atípicos, pois não podem ser punidos pela lei de lavagem, inserida no ordenamento brasileiro naquele ano) e foram apenas mencionados genericamente na declaração de Abrão. Somente recentemente o MPF pode elucidar um dos mecanismos de remessa de doações de fiéis ao exterior, que ocorreu entre 1993 e 2005 por meio da Diskline Câmbio e Turismo Ltda, sediada em São Paulo e com filial no Rio. 
Os três antigos sócios da Diskline são réus em uma ação penal de evasão de divisas e outros delitos e descreveram em detalhes as operações que realizaram com a IURD. Entre 1991 e 1993, quando as testemunhas eram sócios da IC Câmbio e Turismo, as transações eram feitas exclusivamente no Rio. A partir de 1993, as transações passaram a ser feitas pela Diskline, no Rio e em São Paulo. 
Segundo os depoimentos dos doleiros, o enorme volume de cédulas arrecadado era levado às casas de câmbio em veículos da IURD, protegidos por seguranças armados da Igreja. As notas, segundo um dos depoentes, vinham em sacolas e muitas estavam “amassadas, rasgadas, coladas com durex, suadas e rabiscadas”, um dinheiro classificado como “sofrido” por um desses operadores de câmbio. 
Os valores deviam ser contados e conferidos na presença de um pastor da IURD. Cofres eram alugados em agências de banco vizinhas às casas de câmbio, para facilitar o esquema de segurança durante a contagem do dinheiro. Em algumas ocasiões, o dinheiro era transferido de um veículo para outro em estacionamentos dos templos da IURD. 
Em 1997, um dos sócios da Diskline diz ter Estado em Nova York com o bispo Edir Macedo e este teria lhe pedido pessoalmente que estudasse outras formas de realizar operações estruturadas para remeter valores ao Exterior para que as operações tivessem “ar de legitimidade”. O bispo também teria mencionado que a Igreja pensava em abrir um banco no exterior. 
Entre o final de 1997 e o início de 1998, uma das sócias da Diskline assumiu a área operacional em São Paulo e recebia orientações de Alba Maria, que se apresentava como diretora do Banco de Crédito Metropolitano (posteriormente Credinvest), empresas do grupo IURD. As ordens de câmbio e de remessas para o exterior também partiam de Paulo Roberto. 
Segundo a denúncia, dirigidos por Edir Macedo, o presidente nacional da Igreja, João Batista, Alba e Paulo Roberto, definiram e orientaram as remessas ilícitas para as contas correntes da IURD no exterior, que receberam milhões de reais arrecadados junto aos fiéis da Igreja entre 1999 e 2005. As contas ficam em cinco bancos estrangeiros, todos localizados em Nova York. 
CRIMES – O MPF denunciou Edir Macedo, Alba Maria Silva da Costa, João Batista Ramos da Silva e Paulo Roberto Gomes da Conceição pelo crime de quadrilha para a prática de crimes de estelionato, falsidade ideológica, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, na forma de organização criminosa, conforme previsto na Convenção de Palermo, ratificada pelo Brasil em 2004. 
Os quatro são acusados de duas modalidades de evasão de divisas: na qualidade de administradores da IURD, por manterem as contas no Exterior sem declará-las às autoridades, e por promoverem a saída do dinheiro do Brasil para o Exterior. 
Ao fazerem modificações nos contratos sociais das empresas que foram fiscalizadas pela Diretoria Executiva da Administração Tributária, da Fazenda Estadual Paulista, conforme apurado pelo Ministério Público Estadual, de forma diversa da registrada na Junta Comercial de São Paulo, para ocultar sócios dos empreendimentos, os quatro são acusados de falsidade ideológica. 
O estelionato praticado contra os fiéis da Igreja é o crime antecedente da lavagem de dinheiro. A lavagem ocorria por dois meios: através das remessas realizadas ao exterior pela Diskline e pela realização de operações comerciais e financeiras no Brasil usando a Cremo empreendimentos Ltda como empresa de fachada. 
O Procurador da República Silvio Luís Martins de Oliveira também encaminhou cópia da denúncia à área Cível da Procuradoria da República em São Paulo, solicitando que seja analisada a possibilidade de cassação da imunidade tributária da IURD.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

“Mamãe te ama muito”

“Mamãe te ama muito”
Foto: Divulgação

O REGISTRO ACIMA É DA MÃE DO PEQUENO DAVID, 10, D. ELENICE MOTA, NA PÁGINA NO ORKUT DO FILHO; HOJE, ELE APANHOU O REVÓLVER 38 DO PAI, FOI À ESCOLA PROFª ALCINDA FEIJÃO, EM SÃO CAETANO, ASSISTIU AULA E, DE MANEIRA PREMEDITADA, SEGUNDO UM COLEGA DE CLASSE, DISPAROU SOBRE A PROFESSORA ROSILEIDE QUEIROS E ATIROU CONTRA A PRÓPRIA CABEÇA; MORREU NO HOSPITAL; O NAMORADO DA MESTRA DISSE QUE ELA JÁ HAVIA REGISTRADO RECLAMAÇÕES NA DIRETORIA DA ESCOLA SOBRE O COMPORTAMENTO VIOLENTO DO MENINO

23 de Setembro de 2011 às 06:09
247 – O menino David Mota Nogueira, de 10 anos, tinha nada menos que 73 amigos na rede social Orkut. Sua página contém 36 fotografias dele mesmo (9) e com seus amiguinhos. Nos próprios retratos, David, invariavelmente, aparece sorrindo, ora de bonezinho, ora abraçado a um ursinho. Típicos traços infantis, iguais a milhões de outros de meninos da sua idade. Mais: David era bom aluno, com notas altas na escola municipal Professora Alcinda Dantas Feijão, em São Caetano. Detalhe: a instituição de ensino, inserida na cidade de maior IDH do Brasil em 2000, obteve a nota mais alta, entre as públicas, no Enem de 2010.
“Oi, primo, você está muito bonito”, registrou, em mensagem de 22 de junho deste ano, sua prima Andreia. Esta é a última mensagem postada na página, mas todas as outras, sem exceção, são igualmente carinhosas. “Ó, meu lindo, já te add”, escreveu a mãe do pequeno sorridente, d. Elenice Mota, em setembro do ano passado. Ela fez questão de complementar: “Mamãe te ama muito”.
Os elogios ao pequeno David se multiplicam em sua página. “Oi, meu amor, que saudades de você”, perguntou o amigo Lucas, que, aparentemente, tem mais de 20 anos. Explica-se: David frequentava, com os pais, uma igreja próxima à sua casa e, assim, convivia com jovens adultos também.
O pai de David, Nilton Evangelista Nogueira, é guarda municipal em São Caetano. Ele mantinha em casa um revólver 38, de sua propriedade (e não do Estado), que estava legalmente registrada. Foi com essa arma que, na quinta-feira 22, à tarde, David dirigiu-se para a escola Professora Alcina Dantas Feijão, onde cursava o 4º ano do ensino fundamental. Na aula da professora Rosileide Queiros de Oliveira – profissional querida por todos na comunidade escolar, com ficha sem máculas --, o pequeno David começou a criar um fato absolutamente anormal – mesmo para as sociedades acostumadas com a banalização da violência, a exemplo da brasileira. O bom aluno sacou do revólver 38 que levara escondido, atirou contra a professora e, já fora da sala de aula, disparou contra a sua própria cabeça. O resultado foi trágico: ele perdeu a vida no hospital Albert Sabin, após duas paradas cardíacas, e a professora está convalescendo já sem risco de morte.
As explicações devem existir, mas, à primeira vista, são muito difíceis de encontrar. Segundo reportagem do jornal Diário do Grande ABC, David ‘puxava’ de uma perna, o que o levava a mancar. Com isso, de acordo com aquela apuração, ele sofria bullyng. Uma informação complementar, veiculada pelo programa de tevê Brasil Urgente, da Rede Record, chocou ainda mais: segundo o pai de um de seus coleguinhas de turma, David premeditara o disparo contra a professora, o que teria sido confessado por ele na véspera da tragédia. No quebra-cabeças que começa a ser montado para ajudar na compreensão desse caso, essas versão ajudam, mas ainda são pequenas para que a sociedade entenda, afinal, por que isso aconteceu?