RIO - Um eleitor da Pensilvânia postou um vídeo no Youtube em que a
urna eletrônica mudou seu voto de Obama para Romney. Após vários
questionamentos sobre a autenticidade da gravação, a rede americana NBC
confirmou que a máquina foi retirada de serviço.
A
gravação mostra apenas um dedo pressionando a tela, mais de uma vez,
sobre o nome do democrata, mas a opção do republicano é que aparece
selecionada. O eleitor, identificado apenas pelo nome de usuário no
Youtube, "centralpavote", disse que testou também o voto na candidata
independente Jill Stein, que foi marcada sem problemas.
- Em
seguida, eu retirei a opção do nome dela e comecei a buscar onde
estariam as "áreas ativas" (da tela sensível ao toque) para Romney.
Desde o topo do "botão" de Romney até o fim do botão de Obama, estava
tudo ativo para Romney - explicou, na descrição do vídeo no Youtube.
Outros
eleitores, segundo ele, não relataram problemas. O autor do vídeo disse
que chamou uma voluntária, mas ela afirmou que estava "tudo bem".
Especulações sobre manipulação do vídeo começaram depois que algumas
pessoas que assistiram o vídeo perceberam a ausência de alguns quadros
(frames) da gravação.
- Não sou um cara de vídeo, mas se for
possível provar se um vídeo foi alterado ou não, eu fornecerei com
prazer a gravação bruta para quem quer que se disponha a fazê-lo. Os
frames que “pulam” são resultado de uma câmera ruim do Android, nada
mais.
Reclamações também de confusão com identidades e mau treinamento de mesários
O
problema com a urna eletrônica não foi a única reclamação dos eleitores
nesta terça-feira. Algumas reclamações esporádicas sobre os
procedimentos de votação surgiram em diversos estados, desde a
Pensilvânia até a Flórida nesta terça-feira. Grupos de observadores
afirmam que houve confusão com a checagem de identidades na Pensilvânia,
uma estado onde Obama espera ganhar, mas que nos últimos dias recebeu a
visita de Mitt Romney, que tenta ampliar seu campo de batalha.
-
Os mesários foram mal treinados injustamente. Eles estão mandando para
casa pessoas que não estão com suas identidades. O estado da Pensilvânia
deveria se envergonhar disso - afirmou numa coletiva de imprensa
Barbara Arnwine, diretora executiva do Comitê de Direitos Civis dos
Advogados.
No mês passado, um juiz negou o direito de o estado
exigir identificação com fotografia dos eleitores no estado, um revés
para os funcionários estaduais republicanos que defendiam a lei. A regra
sobre a identidade na Pensilvânia está entre uma série de novas leis
relacionadas aos votos, feitas principalmente por legisladores
republicanos, em diversos estados desde 2011. Os tribunais têm julgado
de forma mais dura as novas leis, ou pelo menos tentado adiá-las.
Zack
Stalberg, presidente do Comitê de Setenta, um grupo de observadores da
Filadélfia, afirmou que a maiores da centenas de ligações que o grupo
vem recendo até agora é sobre a confusão com a exigência de identidades.
Apesar disso, ele afirmou que apenas uma pequena porcentagem dessas
ligações - cerca de 10% - são de eleitores que desistiram de votar ou
então que viram pessoas desistindo após a falta de identificação.
Os
republicanos também tiveram reclamações sobre a Pensilvânia. O partido
obteve uma ordem judicial para reintegrar 75 delegados oficiais que
supostamente foram proibidos de entrar em locais de votação na
Filadélfia.
- Esta foi uma tentativa descarada da campanha de
Obama para suprimir nossos observadores eleitorais oficiais na cidade,
mas acabou frustrada - afirmou Rob Gleason, presidente do Partido
Republicano da Pensilvânia.
As longas filas também foram motivo de
preocupação sobre a possível desistência de alguns eleitores. Longas
esperas foram registradas na Flórida, Virgínia e Ohio, todos
estados-chave para a votação, assim como Nova Jersey e Nova York, que
atingidos pelo furacão Sandy na semana passada. Os defensores dos
Direitos Civis afirmaram que as longas filas ameaçavam se tornar um
motivo de vergonha internacional para os Estados Unidos.
- Quando
você olha para as filas que se formaram em locais como Ohio, elas são
mais longas que as filas em Bagdá ou Cabul - afirmou Wade Henderson,
presidente da Conferência de Liderança sobre Direitos Civis e Humanos.
Nas
regiões mais populosas de Miami, o tempo de espera para votar variou
entre 15 minutos e três horas. No domingo, um processo foi aberto pelo
Partido Democrata contra a longa espera, pois em alguns locais onde
reconhecidamente democratas como nos condados de Broward e Palm Beach o
tempo teria sido maior com o objetivo de impedir ou evitar que os
eleitores votassem. Autoridades eleitorais do estado, no entanto,
disseram que a questão era discutível, porque os supervisores nos
condados em questão abriram os locais de votação no domingo e na
segunda-feira, após o período para os votos antecipados, para permitir
que aqueles que não tinham votado ou que estavam ausentes tivessem a
oportunidade de votar.
Outra reclamação na Flórida foi o tamanho
das cédulas, que em alguns casos tinham 12 páginas. Entre outras coisas,
os eleitores também tiveram que opinar sobre 11 propostas de emendas da
constituição estadual, inclusive uma que pede o fim do programa de
plano de saúde de Barack Obama.
Ken Detzner, o secretário de
estado da Flórida, afirmou que a região, que possui 11,9 milhões de
pessoas registradas para votar, pode ter um comparecimento recorde
nessas eleições.
A Flórida também registrou problemas com os
votos de estudantes que estão fora de sua residência eleitoral. Foi o
que aconteceu na enorme Universidade da Flórida Central, em Orlando,
onde diversos estudantes tiveram que usar cédulas provisórias, pois seus
registros de votação listavam seus endereços foram da Flórida. Uma nova
lei estadual pela primeira vez proibiu a mudança de endereço na hora da
votação. Com isso os votos são serão válidos após uma verificação
posterior.
- Neste momento isso está me deixando aborrecida. Se
for perto o suficiente (a contagem de votos), eles vão valer. Neste
momento parece que os dois candidatos estão próximos - afirmou Kristen
Wiley, estudante do primeiro ano da universidade e moradora de Boca
Raton, enquanto aguardava na fila por uma cédula provisória. Ela afirma
que fez o pedido mas não recebeu a cédula de audência do condado de Palm
Beach.
Telefonemas confusos na Flórida
Alguns
eleitores foram surpreendidos com ligações confusas na Flórida nesta
terça-feira. Centenas de moradores de Clearwater receberam mensagens
automáticas nesta terça dizendo que eles deveriam votar até o fim do dia
"amanhã", ou seja, quarta-feira. O jornal Tampa Bay Times apurou com um
supervisor local das eleições que as ligações, na verdade, deveriam ter
sido feitas na segunda-feira.
Vários problemas também foram
relatados no estado de Nova Jersey, atingido pelo furacão Sandy há oito
dias. Os servidores de computadores caíram, eleitores estavam tendo a
identificação exigiada sem necessidade, alguns locais de votação abriram
mais tarde e outros não tinham cédulas.
- Há apenas uma palavra para descrever a experiência em Nova Jersey: catástrofe - disse Barbara Arnwine.
Enquanto
Obama era esperado para ganhar facilmente em Nova York, Nova Jersey e
Connecticut, os estados mais afetados por Sandy, o baixo comparecimento
às urnas pode expor as fissuras no sistema de Colégio Eleitoral arcano
que decide a presidência. Com o empate virtual dos candidatos, de acordo
com as pesquisas, o baixo comparecimento nos estados atingidos possa
garantir a vitória de um candidato nas disputa por estados e a derrota
no voto popular.
Na batalha pelo estado de Ohio, houve nervosismo
sobre o papel das cédulas provisórias. Se os eleitores de Ohio tiverem
pedido com antecedência as cédulas de ausência mas resolveram votar
pessoal, eles são solicitados a usar a cédula provisória mesmo. Mas pela
lei estadual, elas não podem ser contadas até dez dias após a eleição,
afirmou um porta-voz da secretaria de estado. Em entrevista à CBN, o
ex-governador de Ohio, o democrata Ted Strickland, afirmou que a
contagem dessas cédulas pode atrasar o resultado.
Na última
sexta-feira, o secretário de estado, o republicano Jon Husted, emitiu
uma diretiva polêmica que determina que os comitês de eleitorais dos
condados rejeitem essas cédulas caso elas não estavam preenchidas
corretamente. Os grupos de Direitos Civis protestaram contra a decisão.
Também foi aberto um processor contra os softwares instalados em cima da
hora nos sistemas de tabulação em alguns condados de Ohio. O porta-voz
do escritório da Secretaria de Estado, Matthew McClellan, afirmou que as
preocupações eram 'ridículas'. Segundo ele, o programa não alterou
nenhum sistema de tabulação ou máquinas de votação.