Helio Fernandes
Pesquisas são geralmente incontroláveis, raramente confiáveis. Jamais
inquestionáveis. Apresentam muitas fragilidades e até deficiências não
produzidas pela má fé e sim pela falta de credibilidade do modelo
adotado pelo órgão pesquisador. Mas nessa publicada agora, pretendendo
avaliar a popularidade de Dona Dilma e de alguns governadores, se desse
outro resultado que não o negativo, a parcialidade ficaria evidente.
Assim, não se pode deixar de concluir que a exposição-exibição para
baixo de alguns personagens é rigorosamente verdadeira.
Se alguma crítica pode ser feita a essa pesquisa, é que ela não
captou todo o estrondo da queda de Dona Dilma e de Sérgio Cabral Filho. A
repercussão em relação aos dois tem explicação nos fatos.
Ela é presidente acreditando na reeleição, embora, se tivesse
competência para uma análise do que ainda tem uma trajetória longa para
percorrer, concluiria que não terá nem mesmo legenda para satisfazer a
ambição.
O outro personagem que apareceu nuzinho na pesquisa é o governador do
Estado do Rio. E se ele é desvestido desastradamente nessa consulta
(suposta pesquisa) à opinião pública, uma parte vem precisamente pelo
fato de ser governador de onde os protestos alcançaram a maior
repercussão. Mas não é apenas por isso, esse é um fator, mas não
primordial ou fundamental.
O VULNERABILÍSSIMO CABRAL
Nunca ninguém acumulou tantos erros, equívocos, desacertos, atentados
à ética, à moral, à integridade e ao bom senso, quanto o governador.
Antes e depois do povo nas ruas. Na inacreditável e vitoriosa carreira
política, não existe explicação para sua ascensão. Ele começou sendo
derrotado duas vezes para prefeito do Rio, o que dava a impressão de que
eleitoralmente era negativamente previsível.
Mas sua recuperação político-partidária foi se materializando à
medida em que sua geografia bancária, territorialmente, deixou de ter a
dimensão do Acre ou do Amapá, ganhou o espaço inacreditável de um
continente.
Com uma simples eleição para deputado estadual e em 8 anos de
controle da Alerj, junto com o também deputado Picciani (acusado e
processado pela exploração de trabalho escravo), foi demarcando
financeiramente sua trajetória. Não chegou a ser um Eike Batista, mas
relativamente importante e naturalmente ilegítimo.
Atingindo logo o estágio das mansões e do iate fora do Rio,
complementando o apartamento do Leblon. Para quem nunca trabalhou na
vida, devia estar não na Forbes ou na Fortune, mas no Livro dos
Recordes.
Isso pessoalmente. Pois na questão administrativa e na vida pública,
explodiu todos os limites, fez tudo o que “Deus duvida”. Foi acumulando
bens e ilegalidades com a facilidade de quem cruzava de helicóptero os
limites insuperáveis do Leblon até a Lagoa. E se o helicóptero podia ser
usado para um trajeto facilmente transitável, é evidente que para
Mangaratiba seria imprescindível.
Além do mais, ele dizia aberta e oficialmente: “Todos fazem a mesma
coisa”. Aí, a outra ponta do delator, que acusava para se “defender”.
Por isso, a concentração, em cima dele, dos protestos do povo nas ruas.
A NADA SURPREENDENTE DERROCADA DE DONA DILMA
Com esse levantamento que veio desde março, antes do povo nas ruas,
até julho, depois que o mesmo povo saiu as ruas, a queda de Dona Dilma
não é exagerada ou despropositada. De 79% para 31%, o que se evidencia
como exagerado e despropositado é a avaliação inicial. 79% por quê? Foi
eleita sem votos, o primeiro “poste” na carreira de Luiz Inácio Lula da
Silva.
Sem nunca ter disputado eleição, ganhou logo para presidente. Está
bem, era um gênio em matéria de administração, dominava a política como a
arte de governar os povos, essas “credenciais” poderiam suprir a falta
de votos. Mas logo que assumiu, visíveis apenas suas fragilidades.
Então, por que os 79% que atingiu logo, logo, nas primeiras pesquisas.
QUEM SE EMPOSSOU FOI APENAS A GERENTONA
Essa palavra-rótulo foi uma oferta de Lula para ela. Sem outra
denominação, apresentou-a ao eleitorado com essa definição, que apareceu
imediatamente como negativa. Nos obstáculos logo no primeiro ano,
enfrentou dificuldades naturais se exibindo como “faxineira”. Ela dizia
que fazia “faxina” (quem faz faxina é “faxineira”). Mas nem isso era
verdade.
Em poucos meses desse governo inicial e desencontrado, demitiu 7
ministros, era o que ela denomina de “faxina”. Mas em outros meses
velozes desse 2011, readmitia ministros e reencontrava partidos,
desmentindo a sua própria condição de autora da “faxina”. Todos
compreenderam logo que ela apenas empurrava para debaixo de um tapete
imaginário, irregularidades mais do que reais, visíveis e condenáveis.
Era cumplicidade?
COM 14 MESES DE ANTECIPAÇÃO, NINGUÉM ESTÁ LIQUIDADO OU DERROTADO
Dos presidenciáveis, nenhum está fora de avaliação ou pretensão. Por
isso e por estar no Poder, Dona Dilma pode se considerar em condições de
movimentar as pedras desse xadrez que cobre o território do país.
Outros, por terem caído menos, se julgam menos vulneráveis, fazem acordo
“para o segundo turno”, nem sabem se disputarão o primeiro.
Sergio Cabral não concorria a nada, queria ser nomeado embaixador na
França. Só que quem tem que nomeá-lo, perdeu o Poder da nomeação.
Não queria que a semana e o mês acabassem, sem um exame do repórter.
São muitos os assuntos, o tempo vai se encarregar de firmar, fixar ou
desequilibrar posições.
O PAPA DOMINA PELA PARTICIPAÇÃO
A visita ao Brasil já estava marcada antes da renúncia de Bento XVI e
logicamente da ascensão quase surpreendente do cardeal arcebispo.
Falaram logo que ele desmarcaria a viagem ao Brasil, que a JMJ (Jornada
Mundial da Juventude) ficaria para outra oportunidade, talvez um novo
país.
Nesses 4 meses decorridos, com o nome não esperado, simplesmente
Francisco, sua consagração foi quase diária, ele se firmou na correção
dos erros e desacertos administrativos. Mas também por abandonar a
luxuosa liturgia da Igreja. E confirmou inteiramente a vinda ao Brasil,
um sucesso retumbante. Enfrentou chuva, frio inesperado, confusão nos
transportes. Mas inflexível, deu todos os “recados” que se imaginava.
HUMILDADE, SIMPLICIDADE, CONTRA A CORRUPÇÃO TOTAL
Falando em Copacabana ou em Aparecida, as palavras do Papa obtinham
repercussão nacional, eram entendidas em Alagoas, Rio Grande do Norte,
Rio, São Paulo e outras localidades. Por causa da chuva, teve que mudar
de local e de auditório, mas sempre com a mesma tranquilidade,
humildade, credibilidade.
Os que sentiam que eram os alvos da palavra despojada mas candente do
Papa, ficam desacordados, atingidos diretamente. E assim, no chão ou
nas cordas, não podiam reagir. O Papa citou duramente “a corrupção dos
políticos”, não quis esconder nada.
E falando nos olhos dos jovens, concitou-os, incitou-os,
incorporou-os: “Não saiam das ruas, não abandonem as reivindicações”. Aí
então se dirigiu sem camuflagem a todos, sem exceção. A favor e contra,
sem que fosse necessária interpretação. Falta só hoje, sábado, e
amanhã, domingo. E o povo nas ruas e em Copacabana, já na segunda-feira
sentirá falta de Francisco.