sábado, 27 de julho de 2013

A visita do Papa Francisco

O Papa Francisco pediu ao povo que não saísse das ruas. Aplaudido, sinal de que foi entendido, será atendido. As pesquisas que desvendaram as quedas de presidenciáveis, principalmente Dona Dilma, de 79% para 31%. Sergio Cabral e Beltrame reconhecem: “A Polícia pode ter falhado no caso Bruno, nas acusações e na prisão”.

Helio Fernandes
Pesquisas são geralmente incontroláveis, raramente confiáveis. Jamais inquestionáveis. Apresentam muitas fragilidades e até deficiências não produzidas pela má fé e sim pela falta de credibilidade do modelo adotado pelo órgão pesquisador. Mas nessa publicada agora, pretendendo avaliar a popularidade de Dona Dilma e de alguns governadores, se desse outro resultado que não o negativo, a parcialidade ficaria evidente. Assim, não se pode deixar de concluir que a exposição-exibição para baixo de alguns personagens é rigorosamente verdadeira.
Se alguma crítica pode ser feita a essa pesquisa, é que ela não captou todo o estrondo da queda de Dona Dilma e de Sérgio Cabral Filho. A repercussão em relação aos dois tem explicação nos fatos.
Ela é presidente acreditando na reeleição, embora, se tivesse competência para uma análise do que ainda tem uma trajetória longa para percorrer, concluiria que não terá nem mesmo legenda para satisfazer a ambição.
O outro personagem que apareceu nuzinho na pesquisa é o governador do Estado do Rio. E se ele é desvestido desastradamente nessa consulta (suposta pesquisa) à opinião pública, uma parte vem precisamente pelo fato de ser governador de onde os protestos alcançaram a maior repercussão. Mas não é apenas por isso, esse é um fator, mas não primordial ou fundamental.
O VULNERABILÍSSIMO CABRAL
Nunca ninguém acumulou tantos erros, equívocos, desacertos, atentados à ética, à moral, à integridade e ao bom senso, quanto o governador. Antes e depois do povo nas ruas. Na inacreditável e vitoriosa carreira política, não existe explicação para sua ascensão. Ele começou sendo derrotado duas vezes para prefeito do Rio, o que dava a impressão de que eleitoralmente era negativamente previsível.
Mas sua recuperação político-partidária foi se materializando à medida em que sua geografia bancária, territorialmente, deixou de ter a dimensão do Acre ou do Amapá, ganhou o espaço inacreditável de um continente.
Com uma simples eleição para deputado estadual e em 8 anos de controle da Alerj, junto com o também deputado Picciani (acusado e processado pela exploração de trabalho escravo), foi demarcando financeiramente sua trajetória. Não chegou a ser um Eike Batista, mas relativamente importante e naturalmente ilegítimo.
Atingindo logo o estágio das mansões e do iate fora do Rio, complementando o apartamento do Leblon. Para quem nunca trabalhou na vida, devia estar não na Forbes ou na Fortune, mas no Livro dos Recordes.
Isso pessoalmente. Pois na questão administrativa e na vida pública, explodiu todos os limites, fez tudo o que “Deus duvida”. Foi acumulando bens e ilegalidades com a facilidade de quem cruzava de helicóptero os limites insuperáveis do Leblon até a Lagoa. E se o helicóptero podia ser usado para um trajeto facilmente transitável, é evidente que para Mangaratiba seria imprescindível.
Além do mais, ele dizia aberta e oficialmente: “Todos fazem a mesma coisa”. Aí, a outra ponta do delator, que acusava para se “defender”. Por isso, a concentração, em cima dele, dos protestos do povo nas ruas.
A NADA SURPREENDENTE DERROCADA DE DONA DILMA
Com esse levantamento que veio desde março, antes do povo nas ruas, até julho, depois que o mesmo povo saiu as ruas, a queda de Dona Dilma não é exagerada ou despropositada. De 79% para 31%, o que se evidencia como exagerado e despropositado é a avaliação inicial. 79% por quê? Foi eleita sem votos, o primeiro “poste” na carreira de Luiz Inácio Lula da Silva.
Sem nunca ter disputado eleição, ganhou logo para presidente. Está bem, era um gênio em matéria de administração, dominava a política como a arte de governar os povos, essas “credenciais” poderiam suprir a falta de votos. Mas logo que assumiu, visíveis apenas suas fragilidades. Então, por que os 79% que atingiu logo, logo, nas primeiras pesquisas.
QUEM SE EMPOSSOU FOI APENAS A GERENTONA
Essa palavra-rótulo foi uma oferta de Lula para ela. Sem outra denominação, apresentou-a ao eleitorado com essa definição, que apareceu imediatamente como negativa. Nos obstáculos logo no primeiro ano, enfrentou dificuldades naturais se exibindo como “faxineira”. Ela dizia que fazia “faxina” (quem faz faxina é “faxineira”). Mas nem isso era verdade.
Em poucos meses desse governo inicial e desencontrado, demitiu 7 ministros, era o que ela denomina de “faxina”. Mas em outros meses velozes desse 2011, readmitia ministros e reencontrava partidos, desmentindo a sua própria condição de autora da “faxina”. Todos compreenderam logo que ela apenas empurrava para debaixo de um tapete imaginário, irregularidades mais do que reais, visíveis e condenáveis. Era cumplicidade?
COM 14 MESES DE ANTECIPAÇÃO, NINGUÉM ESTÁ LIQUIDADO OU DERROTADO
Dos presidenciáveis, nenhum está fora de avaliação ou pretensão. Por isso e por estar no Poder, Dona Dilma pode se considerar em condições de movimentar as pedras desse xadrez que cobre o território do país. Outros, por terem caído menos, se julgam menos vulneráveis, fazem acordo “para o segundo turno”, nem sabem se disputarão o primeiro.
Sergio Cabral não concorria a nada, queria ser nomeado embaixador na França. Só que quem tem que nomeá-lo, perdeu o Poder da nomeação.
Não queria que a semana e o mês acabassem, sem um exame do repórter. São muitos os assuntos, o tempo vai se encarregar de firmar, fixar ou desequilibrar posições.
O PAPA DOMINA PELA PARTICIPAÇÃO
A visita ao Brasil já estava marcada antes da renúncia de Bento XVI e logicamente da ascensão quase surpreendente do cardeal arcebispo. Falaram logo que ele desmarcaria a viagem ao Brasil, que a JMJ (Jornada Mundial da Juventude) ficaria para outra oportunidade, talvez um novo país.
Nesses 4 meses decorridos, com o nome não esperado, simplesmente Francisco, sua consagração foi quase diária, ele se firmou na correção dos erros e desacertos administrativos. Mas também por abandonar a luxuosa liturgia da Igreja. E confirmou inteiramente a vinda ao Brasil, um sucesso retumbante. Enfrentou chuva, frio inesperado, confusão nos transportes. Mas inflexível, deu todos os “recados” que se imaginava.
HUMILDADE, SIMPLICIDADE, CONTRA A CORRUPÇÃO TOTAL
Falando em Copacabana ou em Aparecida, as palavras do Papa obtinham repercussão nacional, eram entendidas em Alagoas, Rio Grande do Norte, Rio, São Paulo e outras localidades. Por causa da chuva, teve que mudar de local e de auditório, mas sempre com a mesma tranquilidade, humildade, credibilidade.
Os que sentiam que eram os alvos da palavra despojada mas candente do Papa, ficam desacordados, atingidos diretamente. E assim, no chão ou nas cordas, não podiam reagir. O Papa citou duramente “a corrupção dos políticos”, não quis esconder nada.
E falando nos olhos dos jovens, concitou-os, incitou-os, incorporou-os: “Não saiam das ruas, não abandonem as reivindicações”. Aí então se dirigiu sem camuflagem a todos, sem exceção. A favor e contra, sem que fosse necessária interpretação. Falta só hoje, sábado, e amanhã, domingo. E o povo nas ruas e em Copacabana, já na segunda-feira sentirá falta de Francisco.

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