quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Prazos nem tão fatais assim

Carlos Chagas
A começar pelo vice-presidente Michel Temer, e  incluindo os líderes que passam pelo gabinete da presidente Dilma Rouseff, sem esquecer alguns ministros como Ideli Salvatti, da Coordenação Política – todos são unanimes em prever para o começo do próximo ano uma razoável reforma do ministério. Parece não haver mais dúvida de que a chefe do governo aproveitará a necessidade da desincompatibilização dos ministros candidatos às eleições municipais para livrar-se de certas nomeações que precisou engolir quando de sua posse,  até agora não deglutidas. Deverão ser revistas certas  indicações feitas pelos partidos sem os cuidados da probidade e da capacidade dos indicados,  mais algumas exigências do ex-presidente Lula pela continuidade de seus apadrinhados.
Essa tendência, aliás jamais reconhecida de público pela presidente,  em suas bissextas entrevistas, daria ao atual ministério a moratória de pelo menos três meses até as mudanças? Como regra, sim, mas as exceções continuam hipóteses viáveis.  Caso surjam evidências de malfeitos na esfera do governo, ou seja, denúncias com embasamento óbvio, ministros poderão deixar de ser ministros antes do prazo.
Foi o que aconteceu até agora, com a defenestração de Antônio Palocci, da Casa Civil,  Alfredo Nascimento, dos Transportes, Wagner Rossi, da Agricultura, e Pedro Novais, do Turismo. Nelson Jobim, da Defesa, exprimiu um caso à parte, gerado pelo conflito de personalidades. Pode acontecer com outros? Pode, na dependência da revelação, pelos meios de comunicação ou pela Polícia Federal, de irregularidades comprovadas ou indiscutíveis.         
Seria prematuro, até falta de caridade cristã, alinhar previsões sobre que ministros estariam desde já  na marca do pênalti, mas basta atentar para aqueles que pouca ou nenhuma presença marcam no palácio do Planalto, entre outros atualmente  objeto de investigações  nem tão sigilosas assim pelos órgãos de informação e segurança. Quem quiser que os relacione.        
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COINCIDÊNCIAS
Em política inexistem coincidências. Será preciso, por isso, especular sobre a presença de José Dirceu e de Márcio Thomaz Bastos em Paris, esta semana, quando lá se encontra o ex-presidente Lula, recebido com  honras de chefe de estado pelo presidente francês. Tanto o ex-chefe da Casa Civil quanto o ex-ministro da Justiça tiveram razões para encontrar-se com o primeiro-companheiro nos salões do Hotel Lutétia, um dos mais tradicionais da capital francesa.
Dirceu certamente não foi tratar da eleição para a prefeitura de São Paulo, até porque o seu grupo majoritário no PT,  Construindo Um Novo Brasil,  já aderiu à imposição do Lula pela candidatura de Fernando Haddad. Como Marta Suplicy não apareceu na cidade que mais aprecia, depois de São Paulo, a conclusão é de que a sorte está selada em favor do atual ministro da Educação.  Claro que para a indicação partidária, jamais para o resultado das urnas. Mas Marta está precisando ser contida para não chutar o pau da barraca? Seria outra a finalidade do périplo francês por parte de Dirceu? Ou mera coincidência?
Quanto a Márcio Thomaz Bastos, sua presença ao lado do Lula, em Paris, significaria a busca de apoio para a indicação de quem vier a substituir a ex-ministra Ellen Gracie, no Supremo Tribunal Federal? O ex-ministro da Justiça continua peça importante junto a Dilma Rousseff,  na nomeação de ministros dos tribunais superiores. Com um empurrãozinho do ex-presidente  junto à sucessora, conseguirá emplacar quem quiser. Ou estará apenas visitando algum cliente internacional de seu movimentado escritório de advocacia?
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HARRY POTTER
Quem será o jovem senador que pela sua frequente atuação no plenário e nas comissões ganhou o apelido de Harry Potter? Levando a imaginação um pouco adiante, fica claro que aquele barbudo e ameno chefe do castelo dos bruxos do cinema  só difere do verdadeiro comandante do Senado pelo visual, que  tem  apenas  bigode. 
Parece ter voltado aquela salutar prática entre os senadores,  de botar apelido nos colegas. A Branca de Neve está licenciada, servindo a outro poder, mas a Bela Adormecida  despertou  um tanto irritada pelas dificuldades em concretizar planos futuros. O Pinóquio continua saltitante, servindo a todos os donos da Ilha dos Prazeres, enquanto o dr. Silvana permanece fechado em seu laboratório secreto, maquinando maldades para aumentar impostos, agradar o governo e retornar ao comando.  Os Três Mosqueteiros, mesmo contrariando o PMDB, investem contra a corrupção e enfrentam  os guardas do Cardeal. Este mantém-se do lado de fora, lendo tratados de sociologia. 
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O FATOR CHINA
Crescem  informações de que a China vem influindo cada vez mais na política do Paquistão, coisa capaz de irritar os Estados Unidos. A participação é antiga, vem dos tempos em que  a India tornou-se uma potência nuclear. Foram os chineses que repassaram tecnologia atômica  aos paquistaneses para fazerem a sua bomba e  equilibrarem o jogo com seus vizinhos. Agora, diante do agravamento das relações entre o Paquistão e os Estados Unidos, a China acaba de dizer outra vez “presente”.  E tem títulos para tanto, em especial a maioria daqueles da dívida pública americana.  Seria bom o Itamaraty prestar atenção na relação de forças daquela região.

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