A crítica do presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa aos
“políticos profissionais”, defendendo a limitação de mandatos
parlamentares na mesma linha proposta pelo partido que a ex-senadora
Marina Silva pretende organizar, provocou não apenas as especulações
naturais de que estaria falando em causa própria, se apresentando como
uma alternativa, como também comentários mais ácidos de políticos que,
por enquanto preferem ficar no anonimato.
Há os exemplos concretos,
de grandes homens públicos que tiveram vários mandatos seguidos no
Congresso, como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Teotonio Vilela, além
de uns poucos atuais, o que leva a crer que a questão seja de qualidade
individual, e não de tempo de mandato. Há também o fato de que entre os
condenados do mensalão a maioria é de políticos de poucos mandatos,
quando não de um apenas.
Há também os argumentos jurídicos, que dizem
ser flagrantemente inconstitucional uma decisão nesse sentido, pois nas
condições de elegibilidade tal proibição não figura. Seria preciso
modificar a Constituição para impor essa restrição.
Há também quem
lembre que o ministro Joaquim Barbosa, assim como todos os membros do
STF, têm mandatos vitalícios, o que por si só denotaria uma incoerência
de sua parte criticar a longevidade dos políticos que, em vez de serem
nomeados, são eleitos pelo voto direto dos cidadãos.
A campanha da
ex-senadora Marina Silva, que pretende que seu novo partido seja
“diferente” dos existentes, também não encontra muito eco entre os
políticos que poderiam formar em sua bancada, ao contrário do que
aconteceu, por exemplo, com o PSD do ex-prefeito paulista Gilberto
Kassab, o protótipo de “mais do mesmo” no campo partidário.
O PSD foi
uma válvula de escape para políticos incomodados em seus partidos
originais, que gostariam de aderir ao governo Dilma. Conseguiu formar a
terceira maior bancada da Câmara e transformar-se não em mais um dos
muitos partidos aliados, mas em um dos principais sustentáculos da base
governista. Embora tanto Kassab quanto Marina tenham definido seus
respectivos partidos como “nem de centro, nem de direita, nem de
esquerda”, ou ainda “nem governo nem oposição”, os dois partem de pontos
diferentes.
Kassab formou seu partido com a adesão de políticos,
Marina tenta erguer o seu através de petição pública. Por essas
coincidências da política, os dois podem estar também em polos opostos
na eleição presidencial de 2014, e nenhum dos dois com a presidente
Dilma, pelo menos no primeiro turno.
Marina deve ser a candidata a
presidente mais uma vez, na REDE ou em algum partido tradicional que a
abrigue. Já Kassab pode levar seu PSD a apoiar o governador Eduardo
Campos, se ele sair mesmo candidato pelo PSB. O início da caminhada do
PSD teve todo o apoio do PSB de Campos, que chegou em determinado
momento a ser cogitado como o partido que abrigaria os dissidentes caso o
PSD não conseguisse sair do papel.
Da mesma maneira que hoje Marina
tem como plano B se unir a algum partido que não esteja na órbita
governista, ou que queira sair dela para tentar um voo solo. O
presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, surge como uma possível
candidatura alternativa no rastro desse movimento contra a política
tradicional, mas o exemplo mais próximo que temos dessa experiência é o
hoje senador Fernando Collor, que se apresentou como candidato
antipolítico na eleição de 1989, apesar se pertencer a uma família
tradicional da política alagoana.
Teve êxito na sua farsa eleitoral,
mas acabou sendo impedido por um movimento popular que tomou conta das
ruas do país da mesma maneira que, meses antes, a maioria do eleitorado
pensou ter visto nele aquele que redimiria a política nacional.
Hoje,
Collor, eleito senador, faz a política mais tradicional que se possa
pensar, no sentido negativo com que essa política é vista pela opinião
pública, aliado a antigos adversários como o PT, Sarney, Lula e Renan
Calheiros.
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