Carla Kreefft (O Tempo)
A encenação na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do
Cachoeira para tentar convencer o cidadão de que a investigação é séria
parece mesmo coisa de profissional. Os parlamentares se apresentam como
atores dispostos a desempenhar bem seus papéis e, ainda, alimentam a
possibilidade de os depoentes se colocarem como grandes protagonistas.
Tudo muito bem-ensaiado e, principalmente, combinado com o adversário.
As negativas do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que,
aparentemente, irritaram alguns parlamentares durante o depoimento de
terça-feira, foram só o começo de uma historinha que termina, por agora,
com uma conclusão tão óbvia quanto o desfecho de uma novela: os
governadores Perillo e Agnelo Queiroz (PT-DF) não estão diretamente
ligados ao esquema Cachoeira.
Todos os passos foram cuidadosamente pensados para que o roteiro da
CPI tivesse força de convencimento – provocasse aquela sensação de
veracidade que somente as boas tramas são capazes de despertar.
Primeiro, Perillo nega tudo, se coloca na postura de vítima e não deixa
seus sigilos à disposição dos parlamentares. O PSDB se diz ofendido,
aproveita para alfinetar o relator da CPI, o deputado petista mineiro
Odair Cunha, que realmente não demonstra bom desempenho.
Os tucanos alegam que o relator não sabe distinguir os tratamentos
que devem ser dados a uma testemunha e a um investigado. O depoimento
termina sem nenhuma conclusão. E o PSDB mantém aquela postura de partido
intocável, como deve ser uma sigla de oposição.
No dia seguinte, na vez do depoimento de Agnelo Queiroz, o palco
muda. Agora, é o momento de o PT mostrar que é transparente. Agnelo diz
que seus sigilos podem ser quebrados, porque se sente muito incomodado
na condição de suspeito.
Os companheiros dele – os governistas – entram em êxtase e aplaudem a
iniciativa de forma efusiva. Alguns momentos depois, aliados de Perillo
anunciam que ele também aceita a quebra de seus sigilos. E, para
confirmar tudo, em Goiânia, durante uma coletiva, o próprio Perillo
confirma a informação.
Como não poderia deixar de ser, após cada um – tucano e petista –
cumprir o seu papel, os parlamentares começam a sinalizar que a quebra
dos sigilos não é necessária. Eles deixam a entender que as ligações dos
dois governadores com o bicheiro Cachoeira já estavam explicadas. Mas,
ainda assim, decidem pela quebra dos sigilos.
Todos começam a demonstrar uma certa satisfação, como se tivessem a
certeza de que o espetáculo foi bem-recebido pelo público. Obviamente,
não esperavam os gritos de “bravo” e de “mais um”, mas, certamente,
avaliaram que o circo ganhou mais público do que a realidade.
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