Pedro do Coutto
Com a decisão do grupo JF Friboi de não assumir ativo e passivo da
Delta Construções, anunciada pelo empresário Joesley Batista, divulgada
pelo Globo, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, e com a
reportagem de Hugo Marques e Rodrigo Rangel, Veja, que circulou sábado, o
desmoronamento de Fernando Cavendish passou de parcial a total. A
decisão da JF parece ter sido uma consequência de veto da presidente
Dilma Roussef, já que o BNDES possui participação de 30% do capital da
Friboi.
E, na verdade, com poderia uma empresa de abate de gado e frigorífico
administrar uma empreiteira de obras? Nada a ver. Exatamente o oposto
dos anúncios que a Rede Globo divulga para si mesma nos intervalos. As
fotos que acompanham a matéria da Veja são de Cristiano Mariz e Manoel
Marques.
Aliás não é a primeira vez que o Palácio do Planalto intervém numa operação do BNDES.
Lembram-se do episódio Pão de Açúcar, Carrefour, Grupo francês
Casino? Pois é. O Banco chegou a pensar em conceder financiamento para
Abílio Diniz, não levando em consideração a divergência contratual com o
Casino. Dilma Rousseff mandou Luciano Coutinho rever. Mandou rever,
está revisto. O problema, agora, é da sociedade particular.
Entretanto, o problema da Delta, de Fernando Cavendish é, ao mesmo
tempo, tanto público quanto particular. Mais que isso: um caso policial.
A Delta é (ou era) detentora de cem obras estatais, parte delas
integrantes do PAC. No Rio de Janeiro, participava da modernização do
Maracanã e da Transcarioca.
Segundo publica a Veja, a maioria dos empreendimentos já se encontra
paralisada. No Maracanã foi substituída pela Odebrecht e Andrade
Gutierrez. E nas demais?
A lei, bela definição de Hegel há cerca de 200m anos, é a conciliação
entre os contrários. Sem lei não há civilização. Fernando Cavendish,
vítima da embriaguez do sucesso, violou a legislação em vários pontos e
diversos sentidos. Espalhou laranjas pelo país a fora, como escreveram
Rodrigo Rangel e Hugo Marques. Ultrapassou as barreiras que separam o
plano legal do ilegal.
Pensou que seus lances de desenvolvimento político fossem assegurar o
êxito progressivo de seus negócios. Foi justamente o contrário. Se
respeitasse os limites, a que todas as pessoas são obrigadas a
considerar, seria um bilionário para sempre. Agora, penso que
pessoalmente permanecerá rico.
Dificilmente será alcançado pelo Imposto de Renda que sonegou através
dos laranjas. Tampouco será preso. Pode permanecer detido alguns dias.
Mas receberá logo um habeas corpus, como aconteceu com vários outros
acusados. Ele permanecerá em vôo de cruzeiro. Sua empresa não. No
Brasil, o empresário, salvo exceções, não tem o seu destino vinculado ao
fracasso da própria empresa.
Basta citar os financiamentos públicos concedidos a juros zero.
Surpresa? Nem tanto. A TJLP, do BNDES, é de seis por cento ao ano. Em
2011, de acordo com o IBGE, a inflação oficial alcançou 6,3 pontos.
Custo zero, na verdade, não. Juros de longo prazo negativos em 0,3%. Mas
esta é outra questão.
Prisão em nosso país, tradição histórica, não é para os que usam
colarinho branco ou camisas sociais de duas cores. Fernando Cavendish
não corre esse risco. Risco correm as obras públicas das quais a Delta
era titular. Algumas ligadas à Copa do Mundo, à Copa das Confederações,
às Olimpíadas. A presidente da República deve buscar uma solução
urgentemente. Caso contrário, aí sim, a imagem brasileira pode afundar
como o Titanic afundou há 100 anos.
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