Carlos Chagas
Impossível não supor que os tempos de prisão e de tortura infligidos a
Dilma Rousseff no início dos Anos Setenta não se tenham incrustado nela
para sempre. Uma frase do depoimento da hoje presidente da República,
pronunciada em 2001, dá bem a medida de como são permanentes os
sentimentos de quem sofreu naqueles idos: “As marcas da tortura sou eu”.
A inesperada revelação da única vez em que Dilma admitiu relembrar o
passado, agora exposta pelos jornais Correio Braziliense e Estado de
Minas, permite que se conclua porque ela se tornou rígida, áspera e
intransigente em seu relacionamento com a vida e até com seus ministros.
As marcas do que sofreu são ela mesma, por inteiro.
Não dá para projetar o futuro do governo Dilma sem mergulhar no que
passou. Sua postura no presente constitui apenas o prolongamento daquilo
que viveu antes. Assim como significa a previsão de que ela não vai
mudar. Afastou a sombra do revanchismo, sem esquecer nem perdoar, mas
exige de si mesma, e dos outros ao seu redor, inflexibilidade, quer
dizer, comportamento íntegro, competência plena e nenhuma concessão a
erros.
À medida em que decorrem os meses e os anos do mandato em curso, vão
ficando visíveis as diferenças entre Dilma e o Lula. Criatura e criador
deixaram de constituir uma unidade antes mesmo que o então presidente
pensasse nela como sucessora. Surgem evidentes as características
diversas de estilo, de modelo e de concepções. É com essa nova realidade
que o PT e aliados devem raciocinar. Por razões variadas, vai ficando
sonho de noite de verão a hipótese de o Lula retornar ao governo. Será
com Dilma que devem compor-se os companheiros, se pretendem conservar o
poder. Sabendo que ela não perdoa nem esquece. Pior para eles…
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TENDÊNCIA NO PLENÁRIO
Só por milagre o senador Demóstenes Torres conseguirá conservar o seu
mandato, quando for julgado pelo plenário do Senado. Começava a
circular entre os seus colegas um arremedo de projeto de lei impossível,
mas nem por isso contrário à tendência quase unânime:
“Artigo Primeiro – Considere-se extinto o cidadão Demóstenes Torres.
Artigo Segundo – Revogam-se as disposições em contrário.”
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NÃO SOBRA NINGUÉM
Quem já teve acesso ao relatório do ministro Joaquim Barbosa a
respeito do mensalão espanta-se com a sua inflexibilidade. Seriam
considerados culpados os 38 réus, em maior ou menor grau, mas todos
passíveis de penas nada flexíveis. Como o relatório do ministro revisor,
Ricardo Lewandowski, ainda é desconhecido, supõe-se que seja um pouco
mais brando com relação a parte dos mensaleiros. Ainda que igualmente
duro diante das figuras mais destacadas.
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QUE SE ELEJAM GOVERNADORES
No que depender da presidente Dilma Rousseff, o deputado Henrique
Eduardo Alves deveria disputar o governo do Rio Grande do Norte, e o
senador Renan Calheiros, o governo de Alagoas. Traduzindo: ela rejeita a
pretensão de um tornar-se presidente da Câmara, e o outro, do Senado.
Pode estar nessa suposição mais uma pedra no relacionamento entre a
chefe do governo e seu vice, porque Michel Temer apóia as
pré-candidaturas de ambos. No PMDB, porém, essa tendência não é unânime,
ainda que o partido reivindique a chefia das duas casas do Congresso.
Outros pretendentes existem.
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