Pedro do Coutto
A reportagem de Cássio Bruno, O Globo de domingo, focalizando o
discurso de José Dirceu no congresso da juventude socialista encerrado
na véspera, auditório da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
comprova que Lula falou certo ao ministro Gilmar Mendes quando disse que
o seu ex-chefe da Casa Civil estava desesperado.
Dirceu conclamou os estudantes a irem para as ruas apoiá-lo no
juigamento que enfrentará em agosto no Supremo Tribunal Federal,
processo do mensalão. Como sempre, atacou a imprensa e acrescentou,
dirigindo-se aos jovens: não permitam julgamentos fora dos autos do
processo. Suas afirmações, como se constata, assinalam que ele não se
encontra dentro da lógica.
Conclamar estudantes a irem às ruas para pressionar o Supremo é algo
impossível de conceber e aceitar como atitude política normal. O
julgamento em pauta – acrescentou ainda – é o julgamento de nossa
geração.
Que dizer desta colocação? Completamente fora da realidade. Ele está
esquecendo que, por causa dos acontecimentos que culminaram em 2005, foi
demitido do ministério por decreto do ex-presidente Lula. Então Lula,
em sua ótica, é culpado também? E a cassação de seu mandato parlamentar?
O que está publicado no Globo é quase inacreditável. Mobilização
popular contra a Corte Suprema e o procurador geral Roberto Gurgel?
Que significa tudo isso? Deseja transformar um julgamento entre
quatro paredes – para citar peça famosa de Sartre – num tribunal
público? Que pensará de tudo isso seu próprio advogado? Ele e sua equipe
não devem ter aconselhado José Dirceu a tentar deslocar o desfecho para
a praça pública. Sobretudo porque tal deslocamento só piora a situação
do cliente.
Pois ninguém acredita que o escândalo detonado pelo ex-deputado
Roberto Jefferson na entrevista à repórter Renata Lo Prete, publicada
pela Folha de São Paulo há sete anos, não tenha existido. No domingo,
por exemplo, o assunto foi tema de pesquisa realizada por Haroldo de
Andrade Junior, que dirige mesa de debates na Rádio Tupi.
O mensalão existiu ou não existiu? – foi a pergunta – Resposta: cem
por cento, resultado inédito em levantamentos de opinião, disseram que
sim. A foto que acompanha a matéria de Cásiio Bruno foi feita pelo
próprio repórter.
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VOTO FECHADO OU ABERTO
Vamos passar a outro assunto. Os jornais revelaram que o presidente
do Senado, José Sarney, pretende colocar em votação quarta-feira o
projeto de emenda constitucional do senador Paulo Paim que altera os
artigos 52 e 55 da Carta de 88, para que a cassação de mandatos
parlamentares, por falta de decoro, seja feita através de voto aberto e
não mais, portanto, através de voto secreto. Trata-se da PEC número 50,
de 2006, adormecida há seis anos no Congresso Nacional.
Afirma o artigo 55: Perderá o mandato o deputado ou senador cujo
procedimento for considerado incompatível com o decoro parlamentar.
Parágrafo primeiro: Abuso das prerrogativas asseguradas aos membros do
Congresso nacional ou a percepção de vantagens indevidas.
O texto é claro, para citar Arnaldo Cesar Coelho. Claro também o
propósito de Sarney: antecipar a cassação de Demóstenes Torres e agir
para melhorar a imagem do Parlamento junto à sociedade. Na minha
opinião, Demóstenes perderá o mandato seja qual for o processo de
votação. Não tem a menor lógica que o desfecho não seja este.
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