Com pólvora suficiente para chamuscar a todos, comissões do Congresso e da Assembleia de Goiás devem diminuir seu ímpeto investigativo; há, porém, um detalhe: há quem veja no escândalo Cachoeira a única forma de ofuscar o julgamento do Mensalão, doa a quem doer
O PT, através do relator Odair Cunha (MG), lança mão de uma desconfortável insistência nas supostas relações do governador de Goiás, Marconi Perillo, com o contraventor. A suposta venda da casa de Marconi já deu o que tinha de dar. Em recente entrevista, Marconi disse que se tivesse vendido a casa para Cachoeira que teria dito no primeiro dia: "Se eu tivesse vendido para o Cachoeira, seria facílimo ter resolvido isso no primeiro dia. Bastava dizer: 'Vendi a casa para o empresário Carlos Cachoeira.' Eu não podia era mentir. Ele nunca me procurou para comprar a casa." Pesará sobre o governador goiano, na pior das hipóteses, o fato de que Cachoeira comprou sua casa. Certo. Apenas desgaste político. Se nada de novo surgir, encerra-se o capítulo.
O PSDB reage com veemência às investidas de Odair contra Marconi. E não apenas no discurso. O deputado Carlos Sampaio (SP) e o senador Álvaro Dias (PR) cerram fileiras contra a construtora Delta, a maior empreiteira do PAC, Fernando Cavendish (o amigo do governador Sérgio Cabral) e Luiz Antônio Pagot (ex-Dnit, com sede de vingança). Sampaio afirmou recentemente ao 247 que pretende apresentar um parecer independente ao do relator dos trabalhos alegando um claro direcionamento das investigações contra Marconi. "Os números falam por si só. Levantamento estatístico mostra que o relator ouviu até agora 42% das pessoas ligadas ao governador e apenas 19% ligadas ao núcleo criminoso que é o objeto da CPI. Ou seja, ligadas ao Carlos Cachoeira", diz o deputado Sampaio.
Com tanta pólvora para manusear, o mais prudente do ponto de vista político seria um acordo para encerrar aqui as investigações. Um acordo velado, que envolveria o simples desinteresse dos atores da CPMI. Sem a lupa da imprensa, então, a tarefa fica mais fácil. Para o Palácio do Planalto, que não tem qualquer interesse que a ressaca açoite seus costados, tudo bem.
Entra aqui, porém, um novo ingrediente: o julgamento do Mensalão.
Há quem defenda com convicção que o desencadeamento da Operação Monte Carlo tinha dois focos. O primeiro, Demóstenes. Ok. O segundo, desviar as atenções para o julgamento daquele que é considerado o maior escândalo da vida política nacional, um objetivo nada fácil de ser alcançado. No contexto do Mensalão, o aprofundamento da CPMI do Cachoeira, doa a quem doer, é uma necessidade imprescindível. Principalmente para desviar dividir as atenções da opinião pública.
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