Carlos Chagas
Em 1968, quando os tanques russos invadiram Praga, pondo fim a um
movimento libertário que tomou conta do povo tcheco, a última
resistência foi na universidade local. Atacados, antes de render-se, os
estudantes escreveram no muro: “Acorda, Lênin! Eles enlouqueceram!”
Recorda-se o episódio porque uns por presunção, outros por cautela,
os principais auxiliares econômicos da presidente Dilma evoluem sobre o
conteúdo da segunda metade de seu governo. O que fazer, o que mudar, o
que conservar?
Aqui mora o perigo, porque dando como certas algumas mudanças,
ministros e dirigentes do PT demonstram arrogância e já tentam enquadrar
o futuro conforme suas novas tendências e seus atuais compromissos.
Começam a ameaçar com mais ajuste fiscal, mais sacrifícios, talvez mais
neoliberalismo, depois da temporada de benesses e benefícios promovida
no governo Lula.
Chega a ser agressiva a postura adotada pela equipe econômica,
esperançosa de continuar e incapaz de perceber chegada a hora de mudar
de vez o modelo que nos assola desde os tempos do sociólogo. Pregam tudo
o que faz a alegria dos potentados, dos banqueiros e dos especuladores,
esquecendo-se da classe média e até se preparando para retirar das
massas o alpiste oferecido há pouco como embuste eleitoral. Senão
vejamos:
Prevêem, os áulicos de Dilma, que desta vez virá a reforma da
Previdência Social. Traduzindo: vão restringir direitos dos aposentados,
desvinculando de uma vez por todas do salário mínimo os vencimentos de
quem parou de trabalhar. Pensionistas, aposentados do INSS e inativos do
serviço público que se virem, porque receberão sempre menos do que os
funcionários e trabalhadores em atividade. Quem mandou envelhecer? Ao
mesmo tempo, serão descontados como se disputassem novas aposentadorias,
sabe-se lá se no céu ou no inferno.
Em paralelo, evidencia-se que os reajustes do salário mínimo vão
minguar. Jamais acontecerão nos níveis de anos de eleições
presidenciais. No máximo, encostarão na inflação, mas, mesmo assim, na
dependência de os juros baixarem. Quer dizer, os responsáveis pelos
juros ainda altíssimos são os assalariados e os aposentados, não os
especuladores e os banqueiros cujos lucros, em todas essas previsões, só
farão crescer.
No capítulo das reformas diabólicas, asseguram que desta vez virá a
reforma trabalhista. Para restabelecer direitos surripiados nos oito
anos de Fernando Henrique? Nem pensar. Virão para extinguir as poucas
prerrogativas sociais que sobraram. Por exemplo: vão acabar com a multa
por demissões imotivadas e vão autorizar o parcelamento em doze vezes ao
ano do décimo-terceiro salário e das férias remuneradas. Como a cada
ano os salários e vencimentos perdem parte de seu poder aquisitivo, em
poucos anos as parcelas estarão incorporadas à perda, ou seja,
desaparecerão.
Outra iniciativa a assolar o país na segunda parte do mandato de
Dilma será a contenção dos gastos públicos, atendendo a exigências do
poder econômico. Não apenas demissões e não reposição de vagas no
serviço público, mas a retomada do processo de privatizações. Como
também cortes em investimentos de infraestrutura, saúde, educação,
habitação e congêneres.
Ninguém se iluda se, a prevalecer a cartilha dos neoliberais
incrustados no governo, logo voltar a deletéria proposta da privatização
da parte da Petrobrás que continuou pública, do Banco do Brasil, da
Caixa Econômica e até dos presídios. Nada melhor do que, para atender as
exigências do PCC, do CV e congêneres, vender as cadeias à iniciativa
privada. Algumas vão virar hotéis de cinco estrelas, para os bandidos
que puderem pagar. O resto que se vire…
Numa palavra, ainda que verbalmente, os auxiliares econômicos da
presidente Dilma estão tramando. Trata-se da repetição de que
desenvolvimento e crescimento econômico acontecerão às custas dos mesmos
de sempre, porque está guardada para o fim a maior de suas pérolas:
reconhecendo que a carga fiscal anda insuportável para quem produz e
para quem vive de salário, voltam a prometer que na reforma tributária
em gestação farão com que “mais cidadãos paguem impostos, para que todos
os cidadãos possam pagar menos”.
Trata-se do maior embuste produzido por esses embusteiros. Significa
que o pobrezinho, até hoje livre de impostos por não ter o que comer,
começará a pagar com um único objetivo oculto: aliviar a carga fiscal
daquele que pode pagar e que ficará profundamente agradecido por pagar
menos.
Diante dessas previsões, só resta mesmo gritar aos sete ventos: “Acorda, Dilma! Eles enlouqueceram!”
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