Carlos Chagas
Faltando dez dias para o início do julgamento do mensalão, a pergunta
é sobre suas conseqüências políticas e eleitorais, na hipótese de a
maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal aceitar a tese de que
tratou-se mesmo da compra do apoio de deputados. No caso, deputados de
diversos partidos e apoio para o governo, no Congresso.
Se rejeitada a tese do PT, de que a distribuição mensal de dinheiro
deveu-se à necessidade de pagar dívidas de campanha, abre-se ampla
avenida para a conclusão de que não apenas Delúbios e Valérios atuavam
para manter uma fiel bancada. A operação, assim, era conduzida do
palácio do Planalto, quer dizer, por José Dirceu, chefe da Casa Civil, e
José Genoíno, presidente do PT. Poderia o então presidente Lula
desconhecê-la, mesmo afastado de seus detalhes? Afinal, pelo menos dois
políticos de vulto juram até hoje haver alertado o chefe do governo:
Roberto Jefferson e Marconi Perillo.
A condenação de parte dos 38 réus terá efeito nas eleições municipais
de outubro. Ainda que 8 dos 11 ministros do Supremo tenham sido
indicados por Lula e pela Dilma, seria ofendê-los imaginar que por conta
de suas origens devam condicionar seus votos.
O primeiro julgado será José Dirceu. A sentença que ele receber
deverá contagiar as outras. Assim como a sorte de certos candidatos do
PT a prefeito das capitais poderá ser abalada pelo julgamento. Resta
aguardar, sem ilações precipitadas.
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UM ERRO INOMINÁVEL
Constituirá erro crasso a hipótese de sindicalistas, como anunciou o
presidente da CUT, ou estudantes, como exortou José Dirceu, ganharem as
ruas para protestar contra a existência e o julgamento do mensalão. Nada
mais grotesco do que ocuparem a Praça dos Três Poderes, por exemplo,
para tentar influenciar a decisão da mais alta corte nacional de
justiça. Muito menos tentarem manifestar-se no plenário ou adjacências,
no Supremo. O presidente Ayres Britto já começa a adotar providências
cautelares, como a requisição da Força de Segurança Nacional e da
Polícia Militar do Distrito Federal.
Todos os trabalhos serão transmitidos ao vivo, pela TV-Justiça, mesmo
quando fatalmente prolongados. Não que o país vá parar, mas em termos
institucionais, é quase isso.
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