segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O cabo aloprado

Sebastião Nery
Era cabo do Palácio , quando Ademar governava São Paulo. Todo fim de mês, recebia um envelope fino, fechado, para entregar a um senhor gordo e estranho nos subúrbios da capital. E trazia de volta, mandado pelo senhor estranho e gordo, um pacote grande, fechado.
Um mês, dois meses, seis meses, todo dia 30, o cabo levando o envelope fino e trazendo o pacote grande. Morria de curiosidade, mas não tocava o dedo. Um dia, o cabo não se conteve. Discretamente, abriu pela ponta o pacote grande. Era dinheiro, muito dinheiro. Tudo nota de mil. Resistiu à tentação, entregou o pacote inteiro, intocado. No mês seguinte, deram-lhe de novo o envelope fino. Abriu. Era um cartão escrito à mão:
- “50 contos no bicho que der.”
O cabo não aguentou. Pegou uma caneta num botequim, emendou:
- “50 contos no bicho que der. Aliás, 55”.
Não lhe deram mais o envelope fino e o pacote grande. Foi demitido.
***
MERCADANTE
Aloizo Mercadante, outro cabo aloprado, fez campanha com equipe aloprada, não sabe como apareceram milhões desovados por seu chefe de campanha em um quarto de hotel e, no Senado, estarreceu o pais revogando uma renuncia irrevogável. Depois, ele, que se envaidece de seu mestrado de economia na Universidade de Campinas, escreveu patético artigo na “Folha de S. Paulo” dizendo que no inicio do governo Lula a Petrobrás valia apenas 14 bilhões de dólares (sic).
O cabo dois falou do que não sabe. Como venho de uma década, a de 50, que viu e ajudou a Petrobrás a nascer, consultei antigo companheiro daquelas lutas, meio século funcionário da empresa, testemunha ocular da historia, das pessoas que melhor conhece a Petrobrás no Brasil, professor Helio Duque, doutor em Ciências Econômicas pela UNESP (Universidade do Estado de São Paulo), com varios livros sobre a economia brasileira e deputado federal pelo MDB e PMDB do Paraná de 1978 a 1990.
***
PETROBRÁS

1. – Na Bahia, na década de 50, começou a era do petróleo no Brasil. Em cinco décadas, a Petrobrás investiu, só em produção e exploração, 124 bilhões de dólares. E outros tantos bilhões na sua logística de terminais e transporte com navios próprios na pioneira Frota Nacional de Petroleiros. Investimentos responsáveis por 11 refinarias e a usina de xisto no Paraná.
2. – Nas décadas de 60 e 70, além das refinarias de Mataripe na Bahia, Cubatão em São Paulo e Duque de Caxias no Rio, a Petrobrás construiu a Gabriel Passos em Minas, a Alberto Pasqualini no Rio Grande, a Presidente Vargas no Paraná e a fábrica de Asfalto no Ceará. Em 74, comprou as refinarias de Capuava e Paulínia em São Paulo e Manaus no Amazonas. A última por ela construída foi a Henrique Lage, em São Paulo, há 26 anos. Agora está construindo a Abreu Lima em Pernambuco.
***
PETROQUIMICA
3. – O braço petroquímico da Petrobrás vem desde 1967, com a Petroquímica, responsável pelas três centrais existentes no Brasil e que, no final da década de 90, participava acionariamente de 36 empresas coligadas e controladas, com um faturamento de 7 bilhões de dólares.
4. – A Petrobrás Distribuidora tem a maior rede de fornecimento de combustíveis e lubrificantes do pais, com uma receita bruta superior a 55 bilhões de reais. Do preço final da gasolina, 32% são do ICMs, 13% da Cide/Cofins, 14% dos distribuidores e revendedores, 9% do álcool anidro, ficando a empresa com 32%. A gasolina é cara pela alta taxa de impostos que incidem no preço da bomba: só 32% do preço final são da Petrobrás.
***
GÁS
5. – Introduzindo o gás natural na matriz energética nacional, entre 1980 e 2004, a Petrobrás levou sua expansão a 1.790%. O investimento foi de 16 bilhões de dólares. O Plano Estratégico sempre teve por objetivo liderar o mercado de gás natural e derivados na América Latina. As reservas terão forte crescimento nos próximos anos, com o investimento em gasodutos desde 1978, e a descoberta da província de gás de Juruá, a 780 quilômetros de Manaus. Com a exploração em águas profundas, incorporou grandes reservas de gás, ante o crescente consumo de residencias e industrias.
***
PRE-SAL
6. – Os negócios do petróleo no Brasil correspondem a 10% do PIB (Produto Interno Bruto). Em 2008, quando Mercadante publicou o artigo, o faturamento da Petrobrás foi de 234 bilhões de reais. E o seu valor de mercado era de 425 bilhões. A folha de pagamento dos funcionários foi de 8,2 bilhões. A Cosipa, a 42ª maior empresa brasileira, teve faturamento bruto de 8,1 bilhões. O lucro da Petrobrás foi de 22,8 bilhões e os investimentos, no ano, de 144 bilhões. Os impostos pagos ao governo atingiram 55,7 bilhões. Na exportação, gerou 28,5 bilhões, o dobro da Vale do Rio Doce, que teve 15,7 bilhões de reais.
7. – Há 14 anos a Petrobrás começou a pesquisar petróleo debaixo da camada de sal nas bacias de Campos, Espírito Santo e Santos, a 280 kms. da costa. Após grandes investimentos e desenvolvimento tecnológico de ponta comandado por seus técnicos, encontrou-se grande reserva a 7 mil metros. A partir de 2015, e seguramente em 2020, sua exploração atingirá a maturidade. Os investimentos para o pré-sal serão acima de 600 bilhões de dólares. O retorno, com o barril a 80 dólares, será de 4 trilhões de dólares. Se for a 100 dólares, serão 5 trilhões.
E o cabo, quer dizer, o ministro aloprado não sabia nada disso. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário