segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Fica difícil entender

Carlos Chagas

Ao longo dos últimos anos  a Polícia Federal construiu robusta imagem de seriedade e competência no exercício de suas funções, em especial investigando denúncias de corrupção e levando os responsáveis à barra dos tribunais. Tanto nos meios privados quanto nos governos, a PF causou e causa arrepios naqueles envolvidos em maracutaias, desvios, vigarices, roubos, contrabando e sucedâneos.                                                        
A instituição reciclou-se, depois de um  período em que foi  braço armado  da ditadura,  utilizada pelos detentores do poder para combater  o terrorismo através de  métodos truculentos e medievais.   Virou uma versão  melhorada do FBI americano e estendeu sua presença a todo o território nacional. Ninguém brinca com a Polícia Federal. Arrependem-se os raros que tentam subornar e envolver seus delegados e agentes.                                                        
Sucessivas operações vem obtendo êxito na  elucidação de práticas deletérias adotadas no seio da máquina administrativa estatal e suas ligações com grupos  e empresas privadas. Basta sair às ruas e  verificar o respeito popular e os aplausos do cidadão comum a cada iniciativa objeto de  investigações sigilosas, primeiro, depois reveladas em prol da moralidade pública.                                                        
Sendo assim, por que diabos os federais vem-se deixando levar por exteriorizações que só fazem empanar suas atividades?  Que resultado obtém ao  maltratar  suspeitos, indiciados  e até bandidos comprovadamente identificados? Algemas, transferências realizadas pela madrugada, camburões, fotografias humilhantes e divulgadas para a imprensa – esse conjunto  depõe contra quem o  promove e utiliza, muito  mais do que contra os   culpados transformados  em vítimas.                                                        
As operações realizadas nos  ministérios dos Transportes, da  Agricultura e do Turismo,  nas últimas semanas,  despertaram apoio e até entusiasmo na opinião pública e na opinião  publicada.  Só que certos episódios dispensáveis, a elas  ligados,  geraram indignação. A presidente Dilma irritou-se, os partidos da base parlamentar do governo encontraram argumentos para misturar e  contestar  o conteúdo e   as conclusões das investigações. Para que? Demonstrar que a Polícia Federal  é um estado dentro do estado, não dá.  Resolver dúvidas de poder entre a instituição  e o ministério da Justiça,  também não. Afinal, a subordinação é constitucional.   Relembrar os anos de chumbo, de jeito nenhum.                                                        
Arriscam-se,  os federais, a ver  deitada ao  mar parte da carga acumulada com tanta eficiência e sacrifício. Fica difícil entender.

Nenhum comentário:

Postar um comentário