Carlos Chagas
Ou ficamos com mestre Hélio Fernandes, para quem “no Brasil o dia
seguinte sempre consegue ficar um pouquinho pior do que a véspera”, ou
com o Tiririca, aquele do “pior não fica”. Alternativas inexistem para
essas duas evidências.
A CPI do Cachoeira vai devagar, quase parando, em especial depois que
o Supremo Tribunal Federal, intrometendo-se em questões do Legislativo,
suspendeu o depoimento do bicheiro, marcado para ontem. Pode ter sido
legal a decisão do ministro Celso de Mello, mas lógica, jamais. Afinal, a
oitiva de Carlinhos Cachoeira marcaria o real início dos trabalhos da
CPI.
No rol dos malfeitos, não faltou o gesto do presidente da CPI,
senador Vital do Rego, negando ao advogado de Cachoeira acesso aos
documentos arrolados contra ele. Afinal, o direito de defesa só pode ser
exercido quando se conhece a acusação.
Tem mais, em termos de distorções: em vez de centralizar sua ação em
torno de Cachoeira, mesmo sem o depoimento dele, para apurar suas
ligações espúrias com políticos, governantes e empresários, a CPI faz do
Procurador Geral da República seu alvo principal. Por que? Por não
haver denunciado o senador Demóstenes Torres em 2009, mas apenas agora,
em 2012.
Só isso? Nem pensar. A Comissão da Verdade, a ser instalada hoje,
começa dividida e sem saber para onde vai. Um dos seus sete integrantes,
José Carlos Dias, defende que as investigações se estendam a quantos
praticaram crimes de tortura, seqüestro e assassinato, quer dizer, não
apenas os agentes do estado, durante a ditadura militar, mas também “o
outro lado”, isto é, os envolvidos em atos terroristas. Já seu colega,
Paulo Sergio Pinheiro, chama publicamente de “bobajada” essa sugestão,
sustentando que os terroristas já foram julgados, condenados e punidos.
Não param aí os bate-cabeças. Tanto a CPI quanto a Comissão da
Verdade adotam a prática obscura de realizar sessões secretas, sonegando
à sociedade o conhecimento das apurações. Ambas as atividades
precisariam transcorrer às claras, acompanhadas pelos meios de
comunicação. Seus responsáveis preferem agir na sombra, como cidadãos
acima do bem e do mal.
Acresce que o Conselho de Ética Pública da Presidência da República
acaba de produzir uma “censura ética” a Antônio Palocci. O que será essa
suposta punição? O ex-ministro estará morrendo de rir ao tomar
conhecimento da inócua decisão. Deveria no mínimo ter suas lambanças
encaminhadas ao Ministério Público, para providências, acusado de
traficar influência e amealhar milhões em atividades pouco claras de
“consultoria” a empresas com as quais se relacionou enquanto titular da
Fazenda.
Em suma, trapalhadas e interesses partidários desmoralizam as
iniciativas do poder público nas suas três esferas, ou seja,
Legislativo, Executivo e Judiciário. Pior não fica, ou o dia seguinte
sempre consegue ficar um pouquinho pior do que a véspera.
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